21:07Haraton Maravalhas, adeus

No dia 15 de setembro deste ano publicamos um S.O.S. por Haraton Maravalhas. Há pouco soubemos que sua ex-companheira Telma Serur avisou pelo Facebook que o corpo dele foi encontrado em casa ontem. Estava morto há três dias. Notícia triste demais neste dia de Natal. Maravalhas morreu sozinho. Sozinho viveu parte da vida. Porque ele era fechado em si mesmo. E revelava-se nas fotografias. Foi um dos grandes. Nos encontramos algumas vezes nestas últimas três décadas. Não sei como era a sua voz. Sei como eram suas fotos. Tinha a sensibilidade dos que sofrem a dor da vida, mas conseguem enxergar a poesia da vida. Paradoxal, sim, mas compreensível. Se ganhou um Prêmio Nikon Internacional, um dos principais do universo fotográfico, nos últimos tempos morava num porão, aposentado por invalidez, ganhando R$ 800, situação que o fez procurar ajuda para tentar um abrigo que lhe desse um mínimo de conforto para sobrevivência. Pelo jeito, não conseguiu. Tinha seis filhos. Na vida profissional, deixou como legado a criação do acervo fotográfico da Casa da Memória. Do zero, quando saiu de lá havia milhares de negativos e fotos do patrimônio histórico da cidade. Fez tudo em silêncio, por amor à sua arte. Talvez por isso não tenha recebido o reconhecimento devido. Trabalhou com Jaime Lerner, Rafael Greca e com René Dotti na Secretaria de Estado da Cultura. Quando ainda não estava debilitado totalmente, passeava com um cachorro pelas ruas do Centro Cívico. É última imagem que tenho dele. Nos registros da prefeitura, a informação de que seu corpo foi cremado, sem velório. O acervo de sua obra fotográfica está por aí. Para ser salvo.

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8 ideias sobre “Haraton Maravalhas, adeus

  1. Jenifer Maravalhas

    Aos amigos de Haraton Maravalhas: seu corpo será cremado neste domingo de Natal, pela manhã. Não haverá solenidade; o corpo seguirá direto para o Crematório do Vaticano, atendendo seu pedido pessoal, que também era no sentido de não fazer qualquer tipo de cerimônia fúnebre. Posteriormente, suas cinzas serão lançadas no Marumbi ou em um dos rios da Serra Graciosa, sua grande paixão desde adolescente

  2. Raul Urban

    Perdemos Haraton! Já perdemos Rosirene ainda há pouco, ou lembramos já os dez anos passados da morte de Sonminha Nassar. Trabalhei com todos em épocas e lugares dirferentes. Maravalhas fez Maravilhas. Foi o olh, ainda no tempo de O Estado do Paraqná, prgado na Rolleiflex lente 2.8 (tenho aidna hoje um exemplar desses em casa). O que dizer disso num Natal em que existe o renascer e o ir embora de personagens que nos são História? Fica meu preito a quem soube, como foi dito acima, deixar a imagem de uma Curitiba imensa, completa, única, de alguém que soube, qual franciscano erudito, esconder-se nas sombras de um tempo, rvelando-se na luz da vida intensa que poucos n´so soubemos nele desvendar. Um abraço. Urban

  3. Raul Urban

    apenas para lembrar: Haraton nos foi tão importante como Oswaldo e Edson Jansen, tb contemporâneos de O Estado nos anos 1970. Sreá que merecemos perder nomes tão fortes no andarilhar do tempo?

  4. telma serur

    Zé Beto, o Lafayette, companheirão do Hara, agora está comigo. Foi poupado desse final dramático, não viu seu amigão partir da forma trágica como tudo aconteceu.
    Pessoa introspectiva, chamado de “tristão” por companheiros como a Tonica Chagas, talvez poucos se lembrem da voz do Haraton, pois comunicação verbal realmente não era o seu forte. Não foram poucos os apelos que fiz para evitar tanto sofrimento para ele, e algumas promessas do poder público apenas ficaram girando no ar, enquanto ele padecia de frio, de necessidades múltiplas, de falta de atendimento médico, de amparo. A Prefeitura ofereceu um leito numa casa de repouso, para onde não poderia sequer levar as próprias roupas; ficaria num dormitório com mais uns 30 homens, cadeado no portão da casa. Uma solução que só abreviaria a sua morte.
    Associações profissionais apenas aventaram a possibilidade de doação de cesta básica, mas nem isso se viabilizou, o que demonstra o imobilismo que toma conta das instituições numa hora em que se requerem soluções imediatas. Enfim, disso tudo, nada mais interessa.
    Espero que os “urubus” de plantão do poder público resgatem a sua obra, não para fazer firulas para se autopromover ou para render votos em eleições, mas por sua importância intrínseca para a cultura paranaense.

  5. Vivian Lis Maravalhas

    O acervo de Haraton Cesar Maravalhas está comigo. Estou procurando um destino para sua obra, em local adequado para que todos possam compartilhar o Talento de meu Pai. Quem souber de um bom destino para seu acervo entre em contato. Gostaria que o público tivesse acesso aos seus trabalhos.

  6. sergio maluf

    Trabalhei com Haraton n´O Estado do Paraná dos anos 70, com aquela equipe de feras que os patrões locais nunca souberam valorizar. E lembro-me, sim, da voz dele, grave, pausada e rara como seu talento. E quanto a esperar algo do poder público, lembrem do que aconteceu com o acervo do Aramis e tantos outros.

  7. Cajucy

    Lamentável. Só agora tomei conhecimento da morte de Haraton. Quando fui editor em um jornal da capital ele foi meu fotógrafo por um bom tempo. Sempre correto, profissional competente e mestre em sua arte.

    Foi citado nos comentários o nome do Oswaldo, o conheci antes dele ser fotógrafo de renome, quando ele trabalha em outra atividade juntamente com Dino Almeida. Uma grande alma.

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