11:22Disputa no Atlético se transforma em guerra de lama milionária

Da Gazeta do Povo, em reportagem de André Pugliesi:

Parceria feita por Petraglia teria impedido Atlético de faturar R$ 69,4 milhões
Documentos da chapa adversária apontam que Furacão deixou de lucrar nas negociações de Lucas e Alberto com clube uruguaio há cerca de uma década

Às vésperas da eleição para presidente do Atlético, marcada para quinta-feira, a chapa Paixão pelo Furacão traz à tona documentos e contratos que indicam péssimos negócios realizados por Mario Celso Petraglia à frente do clube.

Os papéis foram obtidos com exclusividade pela Gazeta do Po­­vo e apontam uma triangulação entre o Rubro-Negro e o Rentistas, associação minúscula de Mon­­te­­vidéu comandada pelo empresário Juan Figer.

De acordo com as certidões contratuais, duas negociações– ocorridas há mais de uma década – fizeram jorrar cerca de US$ 18,3 milhões nos cofres dos Bichos Co­­lorados (apelido da equipe uruguaia) graças à parceria com o ho­­mem-forte atleticano. Lucro equivalente hoje a R$ 69,4 mi­­lhões que po­­deria ter reforçado a receita na Bai­­xada.

A denúncia faz parte do fogo cruzado político na Arena. A disputa para suceder Marcos Malu­­celli e comandar o clube pelos pró­­ximos três anos – período que en­­globa os preparativos para a Copa do Mundo no Brasil – apresenta ataques de ambos os lados. Ontem à tarde, o grupo CAP­­Gi­­gan­te, liderado por Petra­­glia, levantou suspeita sobre a vinda do atacante Morro García. A transação, segundo os opositores, seria lesiva aos co­­fres atleticanos.

Entre as negociações denunciadas pela Paixão pelo Furacão está a do lateral-direito Alberto, firmada em 1999, uma síntese da conexão uruguaia. O jogador deixou a Bai­­xada rumo ao Rentistas como destaque da jornada que levou o Fura­cão à sua primeira Liberta­­dores, na conquista da Seletiva. O contrato entre as partes pela cessão do atleta é do dia 10 de dezembro e estabelece o pagamento de US$ 1,5 milhão, dividido em duas parcelas de US$ 750 mil.

Vinte dias depois, os uruguaios venderam o atleta por US$ 6,6 mi­­lhões, para a Udinese-ITA, valor re­­gistrado em um comunicado oficial da Federação Italiana de Fute­bol, de número 507, emitido dia 27 de junho de 2001. Mesmo sem ter vestido nem uma vez se­­quer a ca­­misa colorada, o ala reconhecido pelos cruzamentos envenenados valorizou cerca de 440%.

A condição de entreposto do Ren­­tistas já foi matéria de investigação da CPI do Futebol, deflagrada entre 2000 e 2001, e terminou tachada como uma manobra para burlar o pagamento de impostos no Brasil – os clubes se aproveitavam, ainda, do trânsito livre de Fi­­ger no mercado da bola.

Além de Alberto, outras revelações atleticanas trilharam o caminho dos Pampas antes de conhecer a Europa. Caso de Lucas. Desta vez, o carimbo do Rentista surgiu logo em seguida da contratação do atacante – junto ao Botafogo-SP, em 1998 –, quando ele ainda buscava um lugar no CT do Caju.

Lucas chegou como parte de um “pacote”, vindo de Ribeirão Preto, na companhia do zagueiro Gustavo e do volante Cocito – am­­bos também fariam história no Atlético como titulares do título brasileiro em 2001. O avante teve adquirido 100% de seus direitos por R$ 600 mil, no dia 20 de abril de 1998. Os dois defensores custaram menos: R$ 400 mil cada.

Menos de quatro meses depois, dia 10 de agosto, o Rentistas compraria 50% do trio de promessas. Para ter participação sobre Lucas, precisou desembolsar R$ 500 mil. Quase dois anos depois, no dia 25 de julho de 2000, o camisa 9 acabou transferido para o francês Ren­­nes, na transação mais cara de todos os tempos do futebol brasileiro: US$ 21 milhões, cifra divulgada amplamente pela imprensa na oportunidade.

Como de costume, o Rentistas também se deu (muito) bem com a saída do autor do gol inaugural da Arena. Um dia antes da partida de Lucas para a pequena cidade de Ren­­nes, a duas horas de Paris, os uru­­guaios arremataram os outros 50% do atleta, ao custo de US$ 7,5 milhões.

Fazendo os cálculos – incluindo todas as idas-e-vindas do atleta e considerando a cotação do dólar na ocasião – o Atlético faturou algo em torno de R$ 13,4 milhões ao desfazer-se de seu avante. Já o parceiro arrecadou cerca de R$ 23,7 milhões. Lucas jamais pisou nas canchas enlameadas de Mon­­te­­vidéu.

Nos contratos, não há a assinatura de Petraglia, que atendia co­­mo diretor de marketing do clube, então presidido por Ademir Adur. Constam as rubricas de Alberto Ma­­culan, diretor superintendente, e Maria Aparecida Gon­­çalves, diretora financeira. Petra­­glia, conforme noticiou a Gazeta do Povo à época, ciceroneou Lucas na chegada ao Velho Mundo.

Ao longo do período em que Pe­­traglia ditou as regras no Caldeirão, mais transações foram acertadas com a participação do Rentistas – mesmo após ter visto a agremiação de Figer levar a melhor. Entre elas, a do lateral-esquerdo Fabiano, a do volante Cocito, a do meia Adriano e a do atacante Alex Mineiro. Todos passaram pela conexão uruguaia antes de sair do país.

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Transferências
Rentistas é “laranja” em negociações

Fundado em 1933, o Club Atlético Rentistas ganhou notoriedade ao se tornar entreposto de jogadores para negociações ao exterior. Em virtude da ligação com o empresário uruguaio Juan Figer – atuante no Brasil desde o fim dos anos 60, e que também controla o Central Español-URU para os mesmos fins –, o time vermelho acostumou-se a lidar com somas astronômicas de dinheiro.

O status de clube de ponta no campo das negociações, no entanto, não alcança o futebol. Na bola, o Bichos Colorados possui histórico para lá de humilde. Tem apenas um título da Terceira e quatro da Segunda Divisão uruguaia. Destes, o último levantado neste ano, conquista que o fez retornar para a elite charrua, algo incomum em sua história de nenhum brilho técnico.

Oriundo do bairro humilde de Cerrito de La Victoria, o time manda suas partidas no Complejo Rentistas, estádio com capacidade para 10 mil pessoas, com jeitão da suburbana curitibana. Atualmente, um brasileiro integra o elenco, o atacante Wanderson Silveira, de 22 anos. (AP)

Petraglia empurra acusações para diretora financeira
Mario Celso Petraglia foi pro­­cu­­rado pela Gazeta do Povo para responder às denúncias da chapa Paixão pelo Furacão. A reportagem enviou por e-mail os detalhes sobre o conteúdo da matéria. Mesmo assim, o candidato ao Con­­selho Administrativo do Rubro-Ne­­gro pelo grupo CAP­­Gigante pre­­feriu não se manifestar. De­­clarou apenas, via assessoria de imprensa, que os questionamentos deveriam ser feitos para a diretora financeira da época, Maria Apa­­recida Gon­­çalves.

A funcionária citada, que faz parte da chapa Paixão Pelo Fura­­cão, optou apenas por con­­firmar todos os valores citados na reportagem e envolvidos nas negociações entre o Atlético e o Ren­­tistas, do Uru­­guai. “Posso garantir que os números são verdadeiros”, disse.

Presidente do Furacão no período em que as transações de Al­­berto e Lucas com o clube uruguaio ocorreram, Ademir Adur também foi contatado pela re­­portagem. No entanto, não atendeu às ligações feitas ontem no início da noite.

O mesmo ocorreu nas tentativas de fazer contato com Alberto Maculan, então diretor-su­­pe­­rin­­ten­­dente do Atlético. (AP)

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3 ideias sobre “Disputa no Atlético se transforma em guerra de lama milionária

  1. Gardenal

    Os atleticanos são os maiorais até quando brigam entre si. Coisa de profissa. Ninguém joga tão pesado de maneira tão brilhante quanto eles! Mais uma grande jogada de marketing do “Hurricane of the Americas”. É por essas e por outras que os coxinhas estão não apenas 10 anos, mas sim um século atrás dos rubro-negros. É por essas e por outras que eles vão construir um estádio com dinheiro público e todo mundo vai engolir com farinha. É por essas e por outras que a máxima “atleticano é um argentino nascido em Curitiba” é verdadeira.

  2. Jeremias

    O Atlético é o time do povão, das massas, das multidões.

    Mas na hora de escolher presidente, só dá empresário grã-fino!

    O povão que vá assistir ao programa da Hebe, que o Atlético é dos bacanas.

    Pelo PIB dos candidatos parece eleição para o Graciosa.
    Pelo padrão ético lembra mais a escolha do chefe do tráfico no Complexo do Alemão.

  3. Rodrigo

    Pela bala que os candidatos estão gastando na campanha, principalmente o Petraglia, ou eles são completamente apaixonados pelo Atlético ou ser presidente do clube enche não apenas o peito de orgulho e o ego de vaidades.

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