9:16Comunicado a meus praças

por Ivan Lessa*

Nem quero pensar no tempo que perdi não participando das redes sociais. Um tempo que, para ficar no jargão em que resolvi me embrenhar de vez, me parece real, irremediavelmente real. Eu era infeliz e não sabia.

Mas, mesmo neste apagar das luzes, neste ribombante crepúsculo de vida pelo qual fui cooptado, deixo-me levar pelo ditado comum – que nada mais é que uma verdade fantasiada de odalisca rica – de que “antes tarde do que nunca”.

Vou, agora, sem maiores delongas, direto ao ponto: desde o dia 1º de dezembro, pouco mais que uma semana portanto, entrei para as fileiras do Facebook e do Twitter.

Eu, aquele que durante anos fez troça das redes sociais e daqueles que delas participavam, aderi, não por pressão, mas – e a verdade, como o azeite, deve sempre flutuar por cima da água rasa da mendacidade – por solidão e vontade de, irei beirar o piegas, fazer amigos, inda que virtuais.

E, no que digito “amigos virtuais”, minha mente que tem mais cãs e cães que meus ralos cabelos, mentalizo-os todos como se “virtuais” fosse sinônimo de “virtuosos”. Quero crer que sejam. Pelo menos essa a impressão que captei nas primeiras linhas trocadas.

Roberto Carlos, com aquele veneno todo, queria ter, segunda a canção que celebrizou, “um milhão de amigos”. Pois deve ter e bem que os merece pela sua contribuição ao nosso cancioneiro.

Não sonho tão alto assim. Sei-me também não ser Lady Gaga, com mais de 18 milhões de seguidores noTwitter, ou seu rival mais próximo, o talentoso jovem Justin Bieber, com perto de 13 milhões de seguidores. NoTwitter, onde me registrei com um mínimo de formalidades no início deste mês, já tenho 14 seguidores.

Sejamos francos, ter alguns milhões de seguidores pode nos custar caro. Ou a sanidade, se – e é tão fácil – julgarmo-nos, como Tarcísio Meira naquela telenovela que marcou época, um semideus, ou o objeto de uma conspiração paranoica onde, no mínimo, alguns milhares de obsessos aguardam o momento de… de… Deus meu, nem quero pensar.

Fico no lado bom da história. Em 140 caracteres ou menos trocamos eu e meus (meus tanto quanto deles sou) seguidores impressões sobre temas da atualidade.

Como da falência de valores na civilização capitalista ocidental ou o vexame que é o mais recente filme de Keanu Reeves.

Não é bem tomar umas e outras com os companheiros queridos no bar favorito de antanho, mas este é o século 21 onde vivemos, meus caros, e suas premissas e promessas são bem mais diferentes daquelas que o tempo, esse usurpador, levou consigo para todo o sempre.

Ocorre-me de vez em quando citar um velho ditado aprendido no colo de uma tia ou avó e sempre que o faço (bem sei, não tem uma quinzena ainda) recebo de volta outros dizeres contendo ensinamentos que, quando não são profundos, muito me divertem.

Esclareço que tuíto de forma bilíngue, não por pretensão mas por conveniência ou, se preferirem, ânsia de fazer o mais cedo possível o maior número de seguidores ou amigos informatizados. O tempo não espera por ninguém.

Tenho tuitado (o Aurélio já reconhece o verbo juntamente com blogar) todos os dias e espero, neste fim de semana, quem sabe, chegar à casa dos 20. Por falta de esforço não será. Passei a ficar 5 horas por dia no computador.

Quanto aoFacebook, mesmo neófito que sou, enchi a ficha de entrada num abrir e fechar os olhos, preenchendo quesito por quesito, tirei apenas 4 aninhos de minha verdadeira idade, dei meu sexo (por uma vez na vida na forma da lei) e, como num passe de mágica, ou algoritmo cibernético, lá estava na presença intimadora, ou antes perdido numa densa floresta humana de mais de, dizem, 800 milhões de almas, em tudo e por tudo semelhantes à minha.

Não estamos sós, diz o vulgo, em sua sabedoria. Foi só esperar o Mark Zuckerberg nos ensinar os ensinamentos protocolares da amizade.

No enumerar de meus gostos, não deixei de ocultar minha admiração por astros e estrelas do cinema citando George Clooney, Scarlett Johanssen e Woody Allen.

Mencionei também, porque assim pediam, o refrigerante de minha predileção. No setor literário, não tive dúvidas, deixei os preconceitos para lá e abri o jogo: O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, A Cidadela, de A.J.Cronin e O Profeta, de nosso grande Paulo Coelho (quase cometi a gafe de citar um romance qualquer de Charles Dickens).

Resultado: já estou na casa dos 8 amigos. Mas sinto uma fileira a se formar: vem mais gente aí. Papai Noel não me esquecerá.

Agora é botar minha zabumba no eBay para leiloar.

*Colunista da BBC Brasil
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