8:55Quem levará o Nabo?

por Ivan Lessa* 

Estamos na época do ano em que são distribuídos prêmios e enviadas as cartinhas para Papai Noel. Sem falar dos jornais e das mais diversas (e botemos diversas nisso) instituições fazendo suas listas de fatos mais marcantes do ano que se vai e, nele, o que foi feito de melhor nessa ou naquela outra disciplina, de livro às artes (que já foram plásticas), passando pelas minguadas conquistas esportistas.

Os políticos botam para quebrar, como se estivessem expulsando de alguma praça “ocupada” aqueles a quem muita gente boa acha que não passam de uns hippies fedorentos e que, no fundo, sentem (os políticos) vontade de perguntar, como se estivéssemos nos anos 60, “Você é menino ou menina?” Eles são chatos apenas, mas fazem menos danos que os senhores banqueiros ou deputados.

Felizmente, os ingleses são debochados. A sátira, o pastiche e a gozação são marcas registradas deles, mesmo com a escassez de publicações humorísticas impressas, televisadas ou informatizadas. Tremendos caras de pau. Sinal de que nem tudo está perdido.

Peguemos esta segunda-feira agora, dia 5 de dezembro, já que pegar um domingo é deixar de ir comprar os presentes da parentada e dos zequinhas que eles produzem e que vão lhes custar (os protestos organizados ocorreram na quarta-feira que passou) uma nota alta.

Segunda-feira é quando, em meio a grande pompa e circunstância; é revelado o nome do vencedor ou vencedora do Prêmio Turner, instituido em 1984 e que, de ano em ano, vem aumentando em prestígio e as carteiras e bolsas desses artistas que andam, ou são dirigidos por chofer, por aí. (Artista é um termo que eu emprego no sentido pejorativo, aquele reservado para tremendos enganadores).

De uns anos para cá, a cerimônia é transmitida ao vivo pela TV, embora tudo não passe de uma bisonha natureza morta. Os grandes vencedores ainda tem seu nome lembrado por certas gentes, principalmente colecionadores (leia-se vivaldinos investidores).

Para citar os dois mais notórios, Damien Hirst, aquele do tubarão em formol, e Tracey Emin, uma mulher com uma cara que é o que Picasso fez de pior em sua fase cubista, e cuja especialidade são essas enganações a que um bom malandro batizou de “instalação”.

Tracey Emin ganhou em 1999 com algo chamado Minha Cama, que era exatamente isso, a cama da tal fulana: bagunçada e imunda, até hoje motivo de chacota nos meios civilizados. Emin continua a ocupar espaço na vida cultural da nação: instalou-se, de fachada nova (boca, dentes, nariz, queixo) na televisão e, de lá, ninguém a tira mais.

Aí vem o gozado, a gozação, o motivo porque ainda não dá para se desesperar completamente do país e seus abonadérrimos capitalistas.

No mesmo ano em que Tracey Emin expôs os horrores de seu leito à visitação da plebe rude e aos cofres públicos, um gozador chamado Trevor Prideaux instituiu o Turnip Prize, ou Prêmio Nabo (Turner, Turnip, pegaram?), destinado a consagrar a arte moderna de deliberada péssima qualidade.

Difícil, vendo a listagem, distinguir Turner de Nabo. As obras que competem primam por, como seu referencial serião, por infames jogos de palavras no título, e que, segundo as regras do concurso, devem responder a dois quesitos: demonstrar preguiça física e mental ou será que é “pura bosta”? Is it shit, na versão original, para não dizerem que eu estou de sacanagem.

Vamos lá. A alguns concorrentes de 2011. Um boneco de matéria plástica, Action Man, com um selinho cobrindo-lhe as partes pudendas; um jarro de vidro com água cheia de lama (homage ao lendário bluesman, Muddy Waters), são dois dos pontos altos que concorrem ao Nabo. A divulgação será no mesmo dia e hora do Turner.

De roldão, alguns dos nabificados passados: em 2001, O Ciclo Menestrel, de Jacqui Redman (Menstrual Cycle no original e claro que é jogo de palavra, como quase todos Nabos ou Turners); Nada, de Chloe Wilson, a vencedora em 2001, que era exatamente isso, nada, coisa alguma, blicas; Vôo dos Pássaros, de 2005, da mente sadia de Ian Rosenthal, nada mais que um ninho de pássaros com um remédio para resfriado no centro (flu, flew, e sorry por de novo redundantemente prestar contas). E assim por diante.

Não vos preocupai, ó rapaziada das ocupações. Enquanto houver um gozador nestas ilhas, nem tudo está perdido.

*Colunista da BBC Brasil

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