por Ivan Lessa*
Os políticos botam para quebrar, como se estivessem expulsando de alguma praça “ocupada” aqueles a quem muita gente boa acha que não passam de uns hippies fedorentos e que, no fundo, sentem (os políticos) vontade de perguntar, como se estivéssemos nos anos 60, “Você é menino ou menina?” Eles são chatos apenas, mas fazem menos danos que os senhores banqueiros ou deputados.
Felizmente, os ingleses são debochados. A sátira, o pastiche e a gozação são marcas registradas deles, mesmo com a escassez de publicações humorísticas impressas, televisadas ou informatizadas. Tremendos caras de pau. Sinal de que nem tudo está perdido.
Peguemos esta segunda-feira agora, dia 5 de dezembro, já que pegar um domingo é deixar de ir comprar os presentes da parentada e dos zequinhas que eles produzem e que vão lhes custar (os protestos organizados ocorreram na quarta-feira que passou) uma nota alta.
Segunda-feira é quando, em meio a grande pompa e circunstância; é revelado o nome do vencedor ou vencedora do Prêmio Turner, instituido em 1984 e que, de ano em ano, vem aumentando em prestígio e as carteiras e bolsas desses artistas que andam, ou são dirigidos por chofer, por aí. (Artista é um termo que eu emprego no sentido pejorativo, aquele reservado para tremendos enganadores).
De uns anos para cá, a cerimônia é transmitida ao vivo pela TV, embora tudo não passe de uma bisonha natureza morta. Os grandes vencedores ainda tem seu nome lembrado por certas gentes, principalmente colecionadores (leia-se vivaldinos investidores).
Para citar os dois mais notórios, Damien Hirst, aquele do tubarão em formol, e Tracey Emin, uma mulher com uma cara que é o que Picasso fez de pior em sua fase cubista, e cuja especialidade são essas enganações a que um bom malandro batizou de “instalação”.
Tracey Emin ganhou em 1999 com algo chamado Minha Cama, que era exatamente isso, a cama da tal fulana: bagunçada e imunda, até hoje motivo de chacota nos meios civilizados. Emin continua a ocupar espaço na vida cultural da nação: instalou-se, de fachada nova (boca, dentes, nariz, queixo) na televisão e, de lá, ninguém a tira mais.
Aí vem o gozado, a gozação, o motivo porque ainda não dá para se desesperar completamente do país e seus abonadérrimos capitalistas.
No mesmo ano em que Tracey Emin expôs os horrores de seu leito à visitação da plebe rude e aos cofres públicos, um gozador chamado Trevor Prideaux instituiu o Turnip Prize, ou Prêmio Nabo (Turner, Turnip, pegaram?), destinado a consagrar a arte moderna de deliberada péssima qualidade.
Difícil, vendo a listagem, distinguir Turner de Nabo. As obras que competem primam por, como seu referencial serião, por infames jogos de palavras no título, e que, segundo as regras do concurso, devem responder a dois quesitos: demonstrar preguiça física e mental ou será que é “pura bosta”? Is it shit, na versão original, para não dizerem que eu estou de sacanagem.
Vamos lá. A alguns concorrentes de 2011. Um boneco de matéria plástica, Action Man, com um selinho cobrindo-lhe as partes pudendas; um jarro de vidro com água cheia de lama (homage ao lendário bluesman, Muddy Waters), são dois dos pontos altos que concorrem ao Nabo. A divulgação será no mesmo dia e hora do Turner.
De roldão, alguns dos nabificados passados: em 2001, O Ciclo Menestrel, de Jacqui Redman (Menstrual Cycle no original e claro que é jogo de palavra, como quase todos Nabos ou Turners); Nada, de Chloe Wilson, a vencedora em 2001, que era exatamente isso, nada, coisa alguma, blicas; Vôo dos Pássaros, de 2005, da mente sadia de Ian Rosenthal, nada mais que um ninho de pássaros com um remédio para resfriado no centro (flu, flew, e sorry por de novo redundantemente prestar contas). E assim por diante.
Não vos preocupai, ó rapaziada das ocupações. Enquanto houver um gozador nestas ilhas, nem tudo está perdido.
*Colunista da BBC Brasil