de Manoel Carlos Karam
Havia na nossa capital a rua Paris, que não tinha semelhança com ruas parisienses, mas nós fazíamos de conta que era uma réplica perfeita, ou até mesmo que ali era Paris. Os turistas taedos gostavam de visitar a nossa rua parisiense por deboche. Então, durante a guerra, quando por algum motivo que eu nunca entendi os turistas taedos continuaram visitando o nosso pais, sentávamos às mesinhas na porta dos cafés da rua Paris e, com todo o direito do mundo, abatíamos a tiros aqueles taedos, tão alemães quanto a nossa rua parisiense, aqueles taedos que haviam ocupado a nossa Paris.4 Aquilo ficou culturalmente enraizado e persistiu mesmo depois da guerra. Mas hoje em dia a nossa Paris ocupada avança para o desaparecimento. Na última semana, por exemplo, apenas quatro taedos passaram por lá e, para complicar, erramos um deles.
4 Percebe-se que por aqueles lados eram populares os filmes americanos sobre Paris ocupada. (Nota da terceira pessoa)