9:27Números do horror

Da assessoria de imprensa da presidente da Associação dos Médicos Legistas do Paraná:

Violência contra a mulher: dados inéditos revelam que crianças e adolescentes são alvos mais freqüentes da violência sexual em Curitiba
Mulheres de 19 a 50 anos são as maiores vítimas de lesão corporal
 
Dados inéditos levantados recentemente pelo Instituto Médico Legal do Paraná (IML-PR) revelam que as meninas entre 12 e 18 anos são os maiores alvos da violência sexual, por outro lado, as mulheres adultas, com idade entre 19 e 50 anos, são as principais vítimas de lesão corporal. A afirmação é com base nos exames solicitados pela polícia para confirmação de conjunção carnal (relação sexual com penetração na vagina), ato libidinoso (atos que implicam em contato do pênis com boca, vagina, seios ou ânus) e lesão corporal.
 
De janeiro a outubro de 2011 houve um aumento de 38% em relação ao mesmo período do último ano nos exames de conjunção carnal.  Já nos exames de ato libidinoso, o acréscimo foi de 39% na mesma amostragem. Enquanto que nos exames de lesão corporal manteve-se quase o mesmo número, com uma alta de 9%.
 
Outra informação revelada nas estatísticas do IML é que além das meninas entre 12 e 18 anos, o segundo alvo preferencial dos violentadores são as crianças até 11 anos. Juntas, essas duas faixas etárias totalizam 80% de todos os exames de conjunção carnal e 79,6% dos de ato libidinoso feitos pelo IML em pessoas do sexo feminino até outubro de 2011. As mulheres entre 19 e 50 anos somam mais de 73% dos casos de lesão corporal tanto em 2010, quanto em 2011.
 
Para a presidente da Associação dos Médicos Legistas do Paraná e responsável pela metodologia do novo sistema, Maria Letícia Fagundes, o levantamento é preocupante. “Esse número deve ser ainda maior. Se pensarmos que entre dar queixa e ir ao IML grande parte desiste ou se arrepende por insegurança, na realidade este número é muito maior. Sem contar nos casos que as mulheres nem chegam a prestar queixa por medo. Sabemos que esse é um problema social muito sério”, diz.
 
Maria Letícia ainda acrescenta que o fato das mais afetadas por violência sexual – conjunção carnal e ato libidinoso – terem até 18 anos representa uma quebra de conceito. “A sociedade imagina que as mulheres entre 20 e 30 anos são os alvos preferenciais porque já são, de fato, mulheres formadas. Com esses dados vemos que não, o que é realmente assustador. Diariamente vemos crianças de um, dois, três anos se submetendo a perícias para comprovar abuso sexual”, afirma. Apenas nas estatísticas de ato libidinoso de janeiro a outubro deste ano quase 50% dos casos estão entre meninas de até 11 anos.
 
CONJUNÇÃO CARNAL – No total, os exames de conjunção carnal apresentaram um aumento de 9% nos primeiros dez meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2010. Foram 371 procedimentos feitos pelo IML de Curitiba, sendo que destes, 42% foram em crianças até 11 anos e 38% em adolescentes de 12 a 18. Na seqüência estão as mulheres entre 19 e 30 anos, com 12,9%. Dos 31 aos 50 anos, a porcentagem das examinadas cai para 6,7% e os exames feitos em mulheres com mais de 50 anos não chega a 1%.
 
Em 2010, até outubro foram 340 exames realizados e 407 até o final do ano.  Os exames de conjunção carnal são feitos apenas em mulheres porque diagnosticam se houve ou não relação sexual com penetração exclusivamente na vagina.
ATO LIBIDINOSO – Nos exames de ato libidinoso, além da alta de procedimentos feitos com jovens entre 12 e 18 anos, foi constatado um aumento geral de 14%. São 365 neste ano contra 320 até outubro de 2010. A faixa etária dos 12 aos 18 anos é a mais preocupante. O número de exames feitos em meninas adolescentes já é maior do que o ano inteiro de 2010. Até agora foram 131, enquanto que em 2010, de janeiro a dezembro, foram 112.
 
O maior número de exames de ato libidinoso feitos no IML este ano é em meninas de até 11 anos: 43,8% dos 365 casos. Depois são as adolescentes entre 12 e 18 anos, com 35,8%. Em terceiro lugar estão as mulheres entre 19 e 30 com 13,8%, seguidas das com faixa etária entre 31 e 50 anos, com 5,7%. As com mais de 50 anos não chegam a 1%.
 
O ato libidinoso, por se caracterizar em atos que implicam o contato do pênis com boca, vagina, seios ou ânus, também pode ocorrer em meninos, e é por isso que o levantamento é separado da conjunção carnal. Em 2010 foram realizados 79 exames. Em 2011, até 31 de outubro, o aumento já é de 10%, com 87 casos registrados. Da mesma maneira que está acontecendo com as mulheres, os meninos de 0 a 18 anos são os mais agredidos. Eles somam 93% dos casos que passaram pelo Instituto neste ano.
 
TRANSTORNOS – A médica, que é ginecologista há mais de 20 anos, explica que crianças e adolescentes submetidos a abuso sexual ou violência podem sofrer vários transtornos psicológicos que podem influenciar na vida sexual e social futura. “É um dano emocional e psicológico, em longo prazo, decorrente dessas experiências pode ser devastador, especialmente porque o abuso sexual geralmente ocorre na família, através do pai, do padrasto, do irmão ou outro parente qualquer”, fala.
 
LESÃO CORPORAL – Em contrapartida, os exames do IML de lesão corporal, mostram maior incidência em mulheres adultas com idade entre 19 e 50 anos. “Isso já era esperado nos exames de agressão física, pois os adultos fazem a procura espontânea, já a criança só vai se conduzida por um adulto. A maior incidência de causas da agressão nessas mulheres vem do parceiro, que ataca os braços, o pescoço com a tentativa de esganadura e o rosto. Mas também há as brigas em família que são muito comuns, bem como com vizinhos, no bairro ou nas escolas”, conta Maria Letícia.
 
ESTATÍSTICAS – Esses dados do IML estão sendo possíveis de serem coletados agora devido a uma nova ferramenta aplicada no Instituto em 2011. Futuramente poderão ser conhecidos também mais detalhes do diagnóstico como a porcentagem dos exames que deram positivos e negativos.
 
“Esses números são muito importantes para ajudar na definição da estratégia de segurança da cidade. Se estamos tendo um grande número de agressores nas próprias casas, com essas meninas adolescentes, colocar câmeras não vai adiantar. Os dados nos permitem ter uma postura analítica para a segurança de Curitiba”, diz Maria Letícia, idealizadora da ferramenta criada pela Celepar.

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