por Zé da Silva
Escorpião
Doeu mais que a vacina. O tapa fez o sangue escorrer pelo braço. Onde foi parar a casca da ferida? Ele olhou o corredor e lembrou. Foi ali. Meio século antes. Não havia mais as casas. O corredor ficou. E o sangue nos olhos. Única briga da vida. O amigo, que “fez o serviço” (sem querer), foi ao chão. O corpo em cima, mãos na garganta. Gritos. Veio então a palavra: esganadura. Agora não podia mais pedir desculpas. O outro morreu anos depois. Atropelado. Outra palavra. Forte. Como o som das mães dos dois acudindo. Mais uma! Separados na marra. Outra! Naquele corredor. Que ficou. Como as palavras. Marcadas. Para sempre.
briga de moleques? lembra do rosto do cara? claro que sim…