7:08Um cardeal com auréola

por Célio Heitor Guimarães

Nunca fui “papa-hóstia”, sou católico apenas por tradição familiar e por falta de opção, mas preciso homenagear um homem que está muito além da igreja a que pertence e é muito mais que um prelado do colégio pontifício. Em verdade, é um homem que, mesmo ainda vivo, faz muita falta à vida deste país: dom Paulo Evaristo Arns, que completou 90 anos de idade no dia 14 de outubro.

Não entendo (nem quero entender) dos cânones da igreja católica, mas ouso dizer que o brasileiro dom Paulo reúne mais condições para a canonização que o papa João Paulo II. E não exagero: ainda que restrito ao território nacional do Brasil, dom Paulo teve uma atuação bem mais eficiente, proveitosa e corajosa que o “Santo Padre” na luta em favor dos oprimidos, dos desvalidos sociais e dos injustiçados. É um homem de fé, mas, muito mais do que isso, é e sempre foi um homem de princípios, de decisões, de luta e de muita coragem.

Hoje, o arcebispo emérito de São Paulo, desfruta de merecido repouso numa chácara em Taboão da Serra, nos arredores da capital paulista. Mas figura e figurará sempre na galeria dos heróis desta nação.

Em nome da democracia e em defesa dos direitos humanos, dom Paulo Evaristo enfrentou a ditadura militar, desafiando generais, torturadores e até mesmo figuras exponenciais da própria igreja católica. Denunciou a tortura no Brasil, visitou prisioneiros e foi a Brasília reclamar junto ao então presidente Medici. Conta-se que o general, depois de esmurrar a mesa, enxotou-o do palácio. Dom Paulo não se intimidou e abriu a Catedral da Sé para um culto multirreligioso em memória do jornalista Vladimir Herzog, morto nos porões do II Exército. Durante a crise do mensalão, disse-se decepcionado com o ex-
metalúrgico Lula, a quem sempre apoiou nos movimentos operários do ABC paulista.

Um de seus primeiros atos como cardeal arrepiou o Vaticano: vendeu o Palácio Episcopal por R$ 5 milhões e aplicou o dinheiro em núcleos comunitários da periferia de São Paulo. Foi retaliado: sua diocese foi dividida em cinco, para esvaziar o seu poder.

Pouco adiantou. Consciente e rebelde de carteirinha, dom Paulo continuou na luta e esteve na linha de frente pelo impeachment de Fernando Collor.

Já sofreu dois enfartes, retirou a próstata, venceu um câncer no olho esquerdo, sobreviveu a um grave desastre automobilístico, extraiu a vesícula, teve infecção pulmonar, mas não se entrega nunca. “Esperança sempre” é o seu lema. Não tem medo da morte, mas diz não ter pressa. Embora tenha parte com os anjos e seja íntimo de Deus.

A benção, dom Paulo!

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7 ideias sobre “Um cardeal com auréola

  1. Emerson Paranhos

    Comparar este bispo ao Papa João Paulo é um absurdo. Coisa de comunista enrustido com raiva da queda do império soviético. Vai rezar cara e não abuse de nossa paciência com seu lero lero. O bispo citado era tão bom que negava o massacre de padres e freiras acontecido na revolução espanhola, obviamente por motivos unicamente políticos. Isto é humanismo????para mim não passa de obediência cega aos ditames leninistas/stalinistas.

  2. Jose Maria correia

    Dom Paulo durante os anos do arbitrio era uma tabua de salvação e refugio dos injustamente perseguidos , muitas familias fugindo dp esquadrão da morte e das garras da Operação Condor no Cone Sul so sobreviver graças ao abrigo na Diocese e as intervençoes humanistas de D Paulo acima da politica e das questÕes eleitorais correu riscos terriveis e sempre foi de a coragem cristã muito rara .

  3. Célio Heitor Guimarães

    Ufa, que alívio! Depois de passar uma temporada como membro da “direita reacionária e raivosa”, nada como ser “comunista enrustido com raiva do império soviético”…

  4. Célio Heitor Guimarães

    Zé Beto, faltou um “queda” antes do “império soviético”, na minha manifestação anterior.

  5. Parreiras Rodrigues

    O comunismo seria o melhor regime, se vivido como o nazareno Jesus Cristo o praticou.

  6. Emerson Paranhos

    Não quis ofender ao articulista.
    Minha manifestação contra Dom Paulo tem raiz em um fato concreto. Em 1966 eu e minha família solicitamos uma missa em intenção da alma de meu tio avô franciscano assassinado de modo cruel pelos comunistas na Espanha durante a revolução, Qual foi nossa surpresa quando fomos convocados a presença e questionados por D Paulo com aquela vós típica dele. Olha, foi uma experiência triste. Quase tivemos que trocar de igreja. Então humanismo de um lado somente, não consigo entender, E, esse papo de que Ditador são apenas os de centro direita sendo os de esquerda literalmente inocentados de qualquer ato, me dá enjôo. (eles não são ditadores, são líderes) .

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