17:29HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Libra

A voz sumiu nos dois fones. Era de mulher e um violão fazia a marcação. O nome dela e da música, não lembra. Aliás, da vida para trás, nada. O rádio não funciona mais. O tênis que ganhou de uma alma caridosa, furou. Um espelho mostra que a barba está chegando ao meio do peito. O que resta de cabelo, no meio das costas. A roupa é a de sempre. Há quanto tempo usa? Desde o tempo do buraco embaixo do viaduto. Agora ocupa um cômodo de casarão abandonado. Sente falta da música. Dois sapatos sociais param na sua frente. O cheiro de perfume suave contrasta com o seu. Uma mão aparece. Tem vergonha de olhar pra cima. Está sentado perto da entrada de um banco. O trânsito é infernal. Uma nota de cinco é estendida. Pega. Não agradece. Não sorri. Não tem mais dentes. Levanta com dificuldade. Vai até uma farmácia. Pede pilhas. Coloca-as no radinho. Os fones entram nos ouvidos sujos. Liga. Brasil, meu Brasil brasileiro.

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