7:42Um recruta que é uma graça

 

Mort Walker e o boneco do Recruta Zero

por Célio Heitor Guimarães

Velhos leitores de gibis são uma alegria só. A editora Opera Graphica encerrou as atividades, mas a Editora Kolaco ocupou o seu lugar, sob a direção do mesmo Franco de Rosa, um dos baluartes do ramo no Brasil. E quadrinhos de boa qualidade continuam a ser oferecidos por gente que gosta de quadrinhos.
Louvado seja São Adolfo Aizen!

A Kolaco chegou com igual propósito da Opera: oferecer ao leitor brasileiro os grandes clássicos das décadas de 30/40/50. O primeiro lançamento aconteceu no ano passado: a reedição do álbum de luxo com as primeiras aventuras de Flash Gordon, de Alex Raymond – já editado pela Ebal nos anos 70. As
histórias, “No Planeta Mongo” e “No Reino das Cavernas” foram originalmente publicadas, nos EUA, de 1934 a 1936, em tiras diárias nos jornais.

A segunda preciosidade saiu em meados deste ano: “A Saga do Casamento” do Fantasma, personagem de Lee Falk e Sy Barry (então auxiliado pelo quase-brasileiro André LeBlanc). A sequência do evento já fora mostrada no Brasil pela Editora Globo (então RGE), também na década de 70, mas foi reestruturada pela Kolaco, em edição de luxo, capa cartonada e tamanho gigante. E os leitores tiveram o prazer de rever o enlace do herói da selva de Bangala com a paciente novaiorquina Diana Palmer nas duas versões oficiais:
a colorida, das páginas dominicais, e em preto-e-branco, das tiras diárias. Ambas foram publicadas simultaneamente nos jornais. A edição reuniu ainda a lua-de-mel do casal e a chegada dos herdeiros gêmeos, nascidos na Caverna da Caveira.

Agora chegou a vez do Recruta Zero (Beetle Bailey), de Mort Walker. “Recruta Zero – Os Anos Dourados” é outro álbum de luxo da Kolaco, com 120 páginas, formato 26 x 36cm e capa dura (R$ 89), que reúne todas as tiras diárias da turminha do quartel Swampy de 1952 e 1953. É a sequência de “Recruta Zero
Ano Um”, lançado pela Opera Graphica em outubro de 2006, com as primeiras tiras diárias e dominicais do personagem.

Mort Walker (na verdade, Addison Morton Walker) é um dos muitos gênios dos comics. Com um traço simples, roteiro inventivo e muita graça (ele também é o pai das séries Arca de Noé e Zezé & Cia. (He and Lois), este último em parceria com Dik Browne (de Hagar, o Horrível). Zero nasceu originalmente como um universitário que, na época da Guerra da Coréia, acabou se alistando no Exército. E virou um sucesso enorme. No volume da Kolaco está a fase em que ele deixa a farda, volta a ser um civil, mas acaba retornando ao mundo militar, por exigência do público. Compõem a edição um histórico do personagem e traços biográficos do autor.

Vale lembrar que o Recruta Zero, de Mort Walker completou 60 anos no ano passado e que a primeira tirinha do herói foi aprovada pessoalmente por William Randolph Hearst, o “Cidadão Kane” da imprensa americana, que lançou o insubordinado, folgado e trapalhão soldado no mercado de Tio Sam. Hoje, publicados em 1.800 jornais de mais de 50 países, Zero e seus parceiros de caserna divertem metade do mundo, exibindo o purgatório do serviço militar, repleto de sargentos sadomasoquistas, graduados hierárquicos fora da realidade e paus-mandados na vida doméstica, e recrutas bagres-ensaboados,
cheios de ginga e de truques.

Nem tudo, porém, foram flores durante a caminhada. Em 1981, por exemplo, o jornal Tribune, de Minneapolis, suspendeu a tira de Zero por ser considerada “sexista” pelos editores. Entenda-se por “sexista” a briga de feministas com o autor para que cessasse o assédio do General Dureza à sua
secretária Dona Tetê, dona de belas minissaias, belos decotes e um rebolado cobiçado por todo o quartel. Em 1990, outra tira, com os recrutas mostrando as nádegas ao Sargento Tainha, também foi censurada em alguns jornais.

Tirante esses pequenos incidentes de percurso, que serviram apenas para aumentar ainda mais a popularidade do folgado Recruta Zero, nenhuma queixa tem Mort Walker de sua criação. Ao contrário, deve a ele o merecido descanso que hoje usufrui em seu retiro de Connecticut, aos 87 anos.

“Recruta Zero – Os Anos Dourados” já deve estar à disposição dos loucos por gibis nas boas casas do ramo. Se não for encontrado, vale uma visita à Itiban Comics Shop, da Av. Silva Jardim. Se também lá ele não estiver sentando praça, o Xico e a Mitie dão um jeito.

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