19:04HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Leão

Empurrou a folha da veneziana e a luz dourada entrou ferindo os olhos. Virou o rosto. O relógio fora do pulso refletia o retângulo da janela. Não conseguiu fugir dali. O ponteiro dos segundos. Acompanhou. Volta após volta. Imagens então se sucederam no vidro. Uma tela do tempo. Viu rostos. Cenas que antes o tomavam apenas em pensamento. O barquinho de papel na enxurrada pós-chuva. Rua de terra. O braço queimado do irmão. O carro sem freio entrando na preferencial. Os médicos depois do acidente. Crianças no berçário. O olho aberto de um morto. O último suspiro de um menino baleado na cabeça. Um pizza brotinho numa tarde de solidão completa. Um ônibus vazio no início de uma noite de domingo. O gol de um título. A morte rondando na convulsão. A vida na brisa fria com pés descalços na grama orvalhada. Passa o pássaro. Ele pisca. Sabiá. Um cachorro late ao longe. Outros respondem. Dois ponteeiros marcam 18h. O de segundos continua.

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