7:27Ser ou não ser – eis a questão

por Célio Heitor Guimarães

É incomensurável a “criatividade” (para não dizer esperteza) de nossos agentes públicos. São capazes de pirotecnias impressionantes para colher vantagens e continuar bonitos na fotografia. Quer dizer: manipulam por baixo dos panos e mantém publicamente o sorriso dos anjos.

Veja-se o caso do destemido justiceiro Rossoni, atual presidente da Assembléia Legislativa do Estado. Oficialmente, comandou a limpeza na Casa de Leis do Paraná – a rigor, com todo o respeito, uma limpeza de fachada, mais parecida com o pó varrido para baixo do tapete: ninguém ficou na cadeia, poucos perderam cargos e funções, ninguém devolveu o que surrupiou ou permitiu que surrupiassem do erário público e o chefe da quadrilha vai acabar sendo considerado lelé da cuca e, por conseqüência, isento de responsabilidade e punição.

Na intimidade, o nosso Valdir estava recebendo dois salários por mês!… E mantinha-se silente. Sob a proteção de um daqueles tais decretos legislativos secretos, que não são (ou não eram) publicados. A coisa só veio a público quando se pretendeu estender o sagrado benefício ao 1º e 2º secretários da
Assembléia. Aí, a imprensa ficou sabendo. E a imprensa, como se sabe, é aquele inferno para os homens públicos. Não tem complacência nem papas na língua. Conta para todo mundo.

Sabem de quando é o tal decreto legislativo? De 1992, quando reinava no Paraná o todo-poderoso califa Aníbal Khoury, o patrono de todos os malandros do Centro Cívico.

Valdir Rossoni diz que tinha (tem) amparo legal. Tinha (tem) não, nobre deputado. Decreto para ter validade precisa ser publicado. E não pode ferir a Constituição nem a moralidade pública.

Mas o presidente já avisou que vai devolver tudo o que recebeu:

– Para que não reste nenhuma dúvida, estou providenciando a devolução dos valores pagos, desde a minha posse, aos cofres públicos.

Se é (era) legal, por que devolver, excelência?! Se a maldita imprensa, que Requião tachou de “canalha”, não tivesse descoberto, também não precisaria e tudo continuaria como dantes. Agora, se não é (era) legal, o insigne parlamentar, como guardião dos bons costumes, deveria exigir igual procedimento de todos os eminentes e ingênuos presidentes da AL que o antecederam, desde 1992.

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Uma ideia sobre “Ser ou não ser – eis a questão

  1. Ivan Schmidt

    Bravo, Celio Heitor! O valor aquisitivo do meu salário de inativo pago pela Paranaprevidência, depois de 33 anos de serviço, com todo o rigor da verdade absoluta, é o mesmo de quando ingressei no serviço público estadual, no longínquo 1975. Talvez esta seja uma das (muitas) justificativas para que alguns caras possam receber em dobro!!!

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