4:22Jornal da guerra contra os taedos

de Manoel Carlos Karam

Um navio dos taedos bateu por engano num dos nossos portos meridionais. Antes da guerra, aqueles portos recebiam habitualmente navios taedos. Nós tínhamos um comércio bastante grande, os taedos nos vendiam macarrão e eles compravam o nosso grão-de-bico. Era um fenômeno aquele navio taedo que durante a guerra acabou no nosso porto por acaso. Transportava petróleo, trigo, peças para automóvel, gado, bicicletas, papel higiênico, milho para pipoca, maconha, cosméticos, graxa para sapato, aspirinas e tratores para a agricultura, um fenômeno. Mas o que mexeu conosco foi saber que talvez o navio dos taedos não tenha ido parar no nosso porto por acaso. Descobrimos que não eram poucos os marinheiros taedos que tinham família desde antes da guerra naquele nosso porto meridional. Muitas crianças que ganhavam camisas de times de futebol do nosso ministério da educação eram filhos de pais taedos. Isso doeu.

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