16:27Parabéns, Nelson Padrella

 

Nelson Padrella

Nelson Padrella não nasceu. Ele apareceu. E para quem é como ele, só desapareceu para os obtusos e ingratos. Conta a História que deu as caras lá no Rio de Janeiro em mil novecentos e ontem – e só não botou banca porque a mãe mandou o rebento sossegar o facho pois ainda era muito novo. Tinha só alguns minutos de vida. Em Palmeira, cidade clima do Brasil, Padrella soltou as amarras dos outros e mostrou com quantos nós se faz um comunicador. Foi ali que aprendeu a se estrumbicar, mas só liga quando alguém fala em cinta. Nelson Padrella é homem do mundo. A Europa, para ele, é como um bairro ali perto do Juvevê, onde se esconde, mas tem uns cachorros no terreno do vizinho que teimam em descobri-lo. É metido, mas não mente. Ele sofre e chora. Ele ri e, melhor ainda, faz rir quem tem o privilégio do seu convívio. Padrella foi Bakun no cinema, mas ele é mesmo do Balacobaco. É devasso e anjo. Pinta nas telas como cineasta e como pintor, daqueles que se vendesse as obras pelo valor que têm não precisaria triscar na aposentadoria mirrada de funcionário público. Fez publicidade, mas a peça andando na feira do Alto da Glória, com seu porte de artista e, às vezes, envergando um terno discreto e bem cortado, vale mais que algo premiado em Veneza. Tem livros, vários. “Meu Bimbim” é um deles. Outros, prontos, talvez não sejam publicados porque deixariam envergonhados quem frequenta a zona do porto de Paranaguá. Um dia foi o melhor comentarista de Copa do Mundo que esta cidade já teve. Uma espécie de Nelson Rodrigues que enxergava, mas bem longe dos jogos do Mundial dos Estados Unidos. Na última aprontação ele mandou Mandalas. Jóias. Quem colocou uma no peito sentiu uma coisa. Nelson Padrella é ela: a coisa. Que ontem, quietinho, deve ter pensado porque o enviaram a este mundo de pessoas sem educação. Mundo onde muita, mas muita gente mesmo, não o conhece e jamais teve a honra de apreciar uma das suas. O texto, por exemplo. A tirada nonsense. A pincelada que te puxa para dentro. A declaração de amor entre as árvores do Marumbi, um local que era seu e sagrado – e de lá teve de sair pela sandice dos outros. Ontem foi aniversário do Nelson Padrella. Parabéns para nós que o conhecemos.

Compartilhe

4 ideias sobre “Parabéns, Nelson Padrella

  1. Solda

    Como já disse a Lina Faria: o Padrella é o único sujeito que nós conhecemos que toma Caracu de canudinho.

    Padrella, nós temos a vida inteira pela frente!
    Grande abraço!

  2. nelson padrella

    Gentem, curti o necrológio. Você só fala assim porque sabe que já morri. Mas obrigado assim mesmo. Tivesse olhos de vivo teria me emocionado às lágrimas. Ou não, como diria Caetano.

  3. zebeto

    meu caro, fui reler o que saiu no transe. corrigi para não macular este fiapo da sua grande história de vida vivida. você, como disse o ivan schimdt, é muito mais do que as mal traçadas deste aprendiz. e vive! ah, como vive. para nós, que reverenciamos seu talento e tudo o que você nos deu e tem para dar. êpa! não pense besteira. estou escrevendo sério, com todo respeito. grande abraço e, novamente, parabéns. saúde.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.