7:13Vestido de noiva 2011

por Ivan Lessa*

Nelson Rodrigues faria uma farsa-farra das mais debochadas. A população britânica, com a infalível presença da contingência turística, está a se esbaldar e, melhor ainda, se deslumbrar.

Eu, preso a tubos de oxigênio em casa há meses, sou capaz de fazer um sacrifício, alugar um táxi, tacar uma sacola com um tubo nas costas e, bufando de olhos arregalados, dar uma chegada neste fim de semana ao Palácio de Buckingham, onde se encontram expostos para a visitação pública os restos mortais do vestido de noiva usado pela agora duquesa de Cambridge, digna e nobre esposa do príncipe William, que, há algumas décadas, para nós, seria Guilherme, como um defensor de time de primeira divisão no Rio de Janeiro.

Depois do sucesso do enlace (casamento é coisa de classe média), Kate Middleton, abandonou o disfarce de plebeia e, como verdadeira super-heroína, não tem feito outra coisa a não ser defender os pobres, injustiçados e amantes da lei.

O príncipe continua assumindo seus ares principescos, que, diga-se de passagem, caem-lhe muito bem, embora sua principal missão nesta vida é essa: ser príncipe..

Tudo isso é muito interessante, mas, afinal de contas, o que há com o vestido da noiva usado este ano pela atual e atarefada duquesa?

Ele está exposto como um morto ilustre no palácio de Buckingham, aqui em Londres como já foi dito, mas de tão bonito o falecido, nunca é demais repetir. Fica apenas até segunda-feira, depois seguirá o caminho de outro vestidos de noivas, que, suponho, deve ter um céu só para eles.

Até meados desta semana, restavam apenas 1.000 bilhetes para lá chegar (não sei se a fotografia com celular é permitida) e conferir o que alguns observadores com alma de estilistas exaltados chamaram de “o vestido de noiva do século”.

O número de visitantes já ultrapassou a real casa dos 500 mil, constituindo assim um recorde desde que Sua Majestade, a Rainha, abriu as portas do palácio aqui de Londres para o público pagante.

Não nos esqueçamos que todo lucro auferido é doado para a chamada “Real Coleção”, que ninguém sabe direito de que se trata ou para que serve, mas soa bem.

Lembremos que, desde o início do velório, digo, da exposição, em 23 de julho, quase um milhão e meio de curiosos sedentos de cultura já admiraram o ícone estilista em questão, a uma razão de 17 libras e 50 per capita, somando, assim, um total 9 milhões de libras. Vai tudo para a tal Royal Collection – e bom proveito são nossos votos.

Aproveito a ocasião para lembrar que, da primeira vez em que a Senhora Dona Rainha Elizabeth viu o modelo no manequim estilizado e sem cabeça (e a Duquesa terá?), como que flutuando feito o fantasminha Pluft num espaço imaginário, teve seu raro momento de verbalizar seu desagrado.

Disse ela que “aquilo lhe causava arrepios”, ou seja, em bom inglês de Saxe-Coburg-Gotha (diga Windsor), parecia-lhe “creepy”.

Ah, sim, o vestido. Pelo que vi, li e entendi, ele é uma “celebração do grande estilismo britânico”, sendo criado por Sarah Burton, da maison (sorry) Alexander McQueen.

Suas cores oscilam entre o marfim e o cetim, sendo exibido ao lado da famosa tiara Cartier Halo, gentilmente cedida para a feliz ocasião, pela rainha, mais os sapatos (não dão a proveniência, mas juro que não são da Casa Clark ou da Colegial), brincos de diamante que foram oferta dos pais da noiva e uma réplica do buquê de noiva.

Em exposição também, uma réplica do bolo nupcial de três camadas, para não falar de um sem número de fotos oficiais.

Dane-se o enfisema, o preço do táxi, a sacola preta nas costas com o tubo de oxigênio. É nesse que eu vou.

*Colunista da BBC Brasil

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