7:13A Saúde vai mal, obrigado

Da Gazeta do Povo, em reportagem de Maria Gizele da Silva

Paraná perde 1,5 mil leitos de internação em 4 anos
Em todo o Brasil 11,2 mil vagas foram fechadas. Principal causa é o alto custo de manutenção do serviço

O Paraná perdeu 1.547 leitos de internação nos hospitais entre os anos de 2005 e 2009, ou seja, o equivalente a dez hospitais regionais do porte do instalado em Ponta Grossa, com capacidade para 150 leitos. A situação se repetiu no Brasil, que registrou o fechamento de 11.214 leitos de internação no mesmo período. Os custos de manutenção dos internamentos, com equipamentos e recursos humanos, é a principal causa da desativação. Os números foram revelados ontem com a divulgação da Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde.

A baixa ocorreu principalmente em hospitais privados e que prestam serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS). No Paraná, dos 26.793 leitos de internação existentes no ano passado, 6.512 eram exclusivamente públicos e 20.281 localizados em hospitais particulares com alguns serviços credenciados ao SUS. Em 2005, data da última pesquisa, havia 28.340 vagas de internação no estado, sendo 6.102 públicas e 22.238 privadas.

O Paraná perdeu leitos de internação no sistema privado, enquanto que no público houve um acréscimo de 410 vagas. Apesar da queda geral no país o no estado, o IBGE constatou que a média de leitos na Região Sul (o índice não foi divulgado por estado) está dentro do parâmetro considerado ideal pelo Ministério da Saúde, que é de 2,5 a 3 leitos por grupo de mil pessoas. O Sul chega a 2,6, diferentemente de outras regiões brasileiras, como o Norte, que tem 1,8 leito por mil habitantes.

Segundo o superintendente de Sistemas de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, Irvando Carulla, se for feito um levantamento em cada uma das 22 regionais de saúde do estado, o balanço será positivo, visto que alguns hospitais públicos foram inaugurados apenas recentemente. Porém nem todos os estabelecimentos recém-inaugurados estão funcionando integralmente. O Hospital Regional de Ponta Grossa tem capacidade para 150 leitos e atendimento de 500 pacientes/dia, no entanto, usa 10 leitos e realizou desde março, quando foi inaugurado, até agora, 3.572 procedimentos. O diretor da unidade, Adroaldo Araújo, diz que compras e contratações estão em andamento.

Desigual

As estruturas de internação estão voltadas ao sistema privado. No Brasil, apenas 35,3% dos leitos de internação estão no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o restante no privado. As regiões brasileiras apresentam levantamentos desiguais. Enquanto que no Norte, 60,9% das vagas de internamento estão na rede pública, no Sul apenas 19,7% servem ao SUS.

Embora maioria, é o setor privado que está desativando camas de internamento, conforme a pesquisa. Para a diretora de assistência do HC, Mariângela Honório Pedroso, o fechamento de leitos em hospitais particulares é preocupante. “As operadoras de saúde estão remunerando cada vez menos”, afirma. Além disso, a discrepância entre leitos públicos e particulares está relacionada aos custos de manutenção e à burocracia para se contratar pessoal. “Para investir em equipamentos, por exemplo, eu preciso depender de emendas parlamentares, para contratar funcionários eu dependo da autorização de concursos, e nada disso existe na rede privada”, comenta.

Acesso a atendimento é maior nas capitais

Apesar de as capitais brasileiras concentrarem só 23,7% da população, é nelas que se encontram os médicos. A Pesquisa de Assistência Mé­­dico-Sanitária divulgada on­­tem confirmou um antigo problema: o da necessidade da interiorização dos médicos. No Brasil, há em média 5,6 postos de trabalho médico para cada mil habitantes nas capitais, enquanto que nos demais municípios (interior e litoral) essa média cai para 2,6.

No Sul do país, a proporção é ainda mais desigual: 7,8 nas capitais e 2,8 no interior. O Paraná segue essa tendência. Há 7,1 locais de atendimento médico em Curi­­tiba para mil pessoas contra 2,5 do interior e do litoral. O estado catarinense representa a maior distorção do país, com o indicador de 10,9 na capital Florianópolis e 2,9 no restante do estado.

O problema não é número de mé­­dicos formados. A pesquisa mos­­tra que, na média, o Paraná, por exemplo, teve um acréscimo proporcional no período de quatro anos analisado pela pesquisa. Enquanto em 2005, cada parcela de mil paranaenses tinha 2,8 médicos, em 2009 esse índice passou para 3,3. Segundo o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM/PR) há 18.379 médicos na ativa hoje no es­­tado. Para o presidente do Con­­se­­lho, Carlos Roberto Goytacaz Ro­­cha, há duas razões principais para o desnível na oferta de médicos: o primeiro são as más condições de tra­­balho no interior e o segundo é a baixa remuneração. “Na capital o médico encontra hospitais mais bem equipados, com melhores condições. Se ele vai para uma ci­­da­­de pequena, o salário é muito baixo.”

O CRM e o Conselho Federal de Medicina defendem a aprovação da PEC 29, que exige o repasse fixo de recursos dos estados, municípios e da União para o setor da saúde. Assim, conforme Goytacaz, se reduziriam os problemas no interior. Outro problema, lembra ele, é a ausência de planos de cargos e carreira que fixem o médico nas prefeituras, já que muitos gestores apelam para as terceirizações.

Diagnóstico
Melhora oferta de equipamentos

A presença de equipamentos de diagnóstico de doenças aumentou em todo o país em quatro anos, chegando a índices semelhantes aos países desenvolvidos, como observou a Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária. Em todo o Brasil há 63.699 equipamentos de realização de exames médicos, sendo que 9.916 estão na Região Sul. Mas as disparidades se mantêm entre as grandes regiões e entre os serviços público e particular.

Há, por exemplo, nos hospitais privados, 19,8 aparelhos de ressonância magnética para cada grupo de 100 mil pessoas. Nos Estados Unidos, esse indicador é de 25,9. A oferta desse equipamento no Brasil dobrou em quatro anos, passando de 415 para 848, incluindo estabelecimentos particulares e públicos. No que diz respeito aos tomógrafos computadorizados, existem seis para 1 milhão de pessoas no sistema público, enquanto que nos hospitais e clínicas privadas, eles seguem a proporção de 44,3 por 1 milhão.

A oferta de equipamentos, no entanto, também mostra disparidades entre as grandes regiões brasileiras. No Norte, o número de mamógrafos por 100 mil habitantes passou de 0,8 para 1,1. Para os aparelhos de ultrassom, o maior aumento ocorreu no Sul, onde a oferta por 100 mil habitantes ficou em 11, ou seja, acima da média nacional de 10,1. Houve aumento anual na oferta de aparelhos de raios-x por 100 mil habitantes na Região Norte, de 1,9% ao ano, passando de 5,8 para 6,3 em quatro anos.

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