11:55Palácio Iguaçu

por Jair Elias dos Santos*

Pensando na unificação do Paraná e na consolidação de Curitiba como Capital, Bento Munhoz da Rocha Neto criou, nos primeiros meses do seu mandato (1951-1955), o Centro Cívico, o primeiro do Brasil, que teria o papel de reunir os prédios que seriam erguidos em único local. O empreendimento, segundo Mensagem encaminhada a Assembléia Legislativa em 1952 citava “que só encontra paralelo no de Washington, nos Estados Unidos da América – é composto por uma série de obras capazes de dizer por si sós da existência de um governo, de um centro que administra as demais regiões: Palácio do Governo, Residência do Governador, Palácio da Justiça, Tribunal de Júri, Tribunal Eleitoral, Edifício das Secretarias, Secretaria, Plenário e Comissões da Assembléia”.

No primeiro semestre de 1951, Bento por meio de mensagem a Assembléia Legislativa, estabeleceu uma dotação de 100 milhões de cruzeiros para as obras do Centro Cívico, quantia aumentada meses depois. O local escolhido para a construção do Centro Cívico foi o Campo do Paraná, lugar conhecido também como Vila Lustosa.

Definido o local, Bento reuniu familiares e amigos para comunicar que a partir daquele encontro seus familiares, amigos e pessoas que conheciam o projeto do Centro Cívico estavam proibidos de adquirir ou se envolverem em transações “envolvendo terras nas áreas escolhidas”. Anteriormente a esta reunião, Bento deu a mesma ordem aos seus assessores que conheciam o projeto. O assunto foi mantido, por ordem de Bento, como “segredo de Estado”.

 “Curitiba dispensa os palácios!”, título em letras garrafais do jornal “Gazeta do Povo” de 31 de outubro de 1951. “Enquanto o Governo do Estado se dispõe a gastar milhões de cruzeiros, nos já famosos Palácios do Centenário, Curitiba continua abandonada apresentando-se nos olhos do turista, como legitima cidade dos contrastes marcantes”. O início da terraplenagem do local escolhido para o Centro Cívico começou em 15 de janeiro de 1952. Bento e comitiva em 1º de julho de 1952 visitaram as fundações do Palácio, marco inicial da sua construção. 

A inauguração do Palácio Iguaçu marcou os festejos do 101º aniversário. A solenidade de inauguração começou na noite do dia 18 de dezembro de 1954., com banquete e baile de gala, que teve início às 23 horas. À zero hora do dia 19 aconteceu à inauguração solene do Palácio Iguaçu. O presidente João Café Filho, trajado com a faixa presidencial, juntamente com o governador Bento Munhoz da Rocha Netto, com faixa de governador, posaram ao lado da placa inaugural, marcando assim a inauguração do prédio.

No dia seguinte, uma multidão, calculada em aproximadamente cinco mil paranaenses, visitou o novo palácio. Além de conhecerem “uma das mais belas sedes governamentais do país”, os populares tiveram a oportunidade de cumprimentar o presidente Café Filho e o governador Munhoz da Rocha.

Durante o jantar, os convidados tiveram como entrada um coquetel, com salgadinhos fixados em abóboras envoltas em papel alumínio. No jantar foi servido “camarão ao catupiri”, uma receita vinda de São Paulo. Um dia antes, a primeira-dama pediu a Paulo Mischur (o grande gourmet de Curitiba) que experimentasse o prato, batizado então de “Marta Rocha”. De sobremesa, doces típicos servidos por belas mocinhas da cidade vestidas com trajes das etnias paranaenses.

Algumas gafes marcaram os festejos: com três mil convites, os impressos recebiam subscritos os tradicionais “Sr. Fulano e exma. Senhora”. Na pressa, o próprio arcebispo metropolitano mostrou a dona Flora o convite com o “Sr. Arcebispo Metropolitano e Senhora”.

A melhor das gafes, das percebidas, veio de um criativo arranjo de flores idealizado por dona Flora, quatro imensas espirais de hortênsias com mais de dois metros de altura. O efeito seria “surpreendente e magnífico”, como se flores azuis estivessem se erguendo em caracol: “As armações eram aspirais de ferro batido, pintado de azul e crivado de argolas que seriam suportes para os copos com água que seriam a base das hortênsias”.

Tudo teria ficado uma beleza, não fosse a inabilidade da servente encarregada da montagem. As flores não foram colocadas nos seus lugares e os aspirais pareciam esqueletos crivados de copos d’água. No final do banquete, um garçom aflito e gaguejando procurou dona Flora:

– A senhora não avalia a calamidade que está acontecendo… Calcule que os convidados estão bebendo toda a água das hortênsias! Já beberam tudo, acharam a idéia ótima, e querem mais. O que faço? O que fazemos?

Flora, apertando os lábios, dominando a vontade de rir, respondeu:
– Então, agora deixe. Que mais?

– Era água sem filtro. Água de balde!

Flora perplexa:

– Água de balde? Santa Bárbara, que despropósito!
Para consolar a anfitriã, o garçom ainda acrescentou: – De balde novo, sim senhora!

 *O livro “Palácio Iguaçu: coragem de realizar de Bento Munhoz da Rocha Neto” do historiador Jair Elias dos Santos Júnior encontra-se nas Livrarias Curitiba –Shopping Estação.

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2 ideias sobre “Palácio Iguaçu

  1. antonio carlos

    Como gente como esta está nos fazendo falta, que classe,que categoria, que elegância. Os políticos hoje só sabem falar mal uns dos outros. Que contraste. ACarlos

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