14:26Brasil vota, pobre mas feliz

por Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo 

 O Brasil que vai hoje às urnas é, na essência, do seguinte tamanho social: metade dos eleitores (67,5 milhões) ganham, no máximo, até dois salários mínimos.

Seria preciso torturar os fatos para dizer que pertencem à classe média, esse paraíso a que foram conduzidos 30 milhões de brasileiros segundo o ufanismo em voga.

Dos eleitores brasileiros, 13 milhões (10%, pouco mais ou menos) é pobre, pobre mesmo. Ganham menos de um salário mínimo. Figuram entre os 28 milhões excluídos do sistema público de aposentadoria e auxílios trabalhistas.

São, portanto, ninguém.

Também no capítulo educação, a pobreza é radical: 49% dos eleitores fizeram, no máximo, o curso fundamental.

Nesse país que tanto seduz a mídia estrangeira, mais de 60% de seus alunos não têm a capacidade adequada na área de ciências. No exame mais recente, o Brasil ficou em 52º lugar entre 57 países, no quesito ciência.

Alguma surpresa com o fato de que a sétima ou oitava potência econômica mundial é apenas a 75ª colocada quando se mede o seu desenvolvimento humano?

Não tenhamos medo das palavras: o Brasil que vai às urnas é um país pobre, obscenamente pobre para o seu volume de riquezas naturais, território e população.

É também obscenamente desigual, apesar da lenda de que a desigualdade se reduziu. É impossível reduzir a desigualdade em um país que dedica ao Bolsa Família (12,6 milhões de famílias) apenas R$ 13,1 bilhões e, para os portadores de títulos da dívida pública (o andar de cima) a fortuna de R$ 380 bilhões, ou 36% do Orçamento-2009.

Ainda assim, é um país mais feliz do que era há oito anos ou há 16 anos. Fácil de entender: “O pobre quer apenas um pouco de pão, enquanto o rico, muitas vezes, quando encosta na gente, quer um bilhão”, já ensinou mestre Lula.

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3 ideias sobre “Brasil vota, pobre mas feliz

  1. antonio carlos

    Existe um ditado popular que diz que, quem vive na ilusão no desespero morre. Ou outro, talvez de mais fácil entendimento, quem espera sapato de defunto morre descalço. A ilusão oficial de que x milhões de pessoas mudaram de classe social, não é verdadeira se levarmos em conta os indicadores sociais. Somos então um gigante de pés de barro, ou seja, a realidade não nos é nada favorável. Como vamos fazer eantão o País progredir? Com propaganda é que não é. ACarlos

  2. Jango

    Esses números do Clovis Rossi são mais importantes que as estatísticas eleitorais, agora caso de polícia e não mais de política.
    O analfabetismo político vem à reboque desses números e explicam muita coisa do pleito eleitoral.

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