de Zeca Corrêa Leite
Quando perguntam de mim sorrio,
desconverso
e fico a pensar que desejam
essas pessoas querendo saber
como estou?
Continuo na mesma:
morando em quarto alugado
de estreitas paredes úmidas;
dinheiro mal dando pro cigarro,
poucas noites de anarquia.
O jornal concede vales
todo mês, no dia 15,
Joana encontrou outro homem,
diz que melhorou de vida.
O espelho me reflete:
olheiras fundas, escuro sono
atrás dos olhos.
A faxineira me acorda
batendo toda manhã
com a vassoura na porta.
No cesto de lixo,
amassadas,
poesias que escrevo
no correr das madrugadas.
A mulher reclama
dos papéis respingados d’água
quando lavo o rosto e saio
arrastando pelas pernas
tristes poemas cansados.