6:38Continuamos em transe

Do descobridor do Cabral:

Até para fugir do horário eleitoral, dos debates e entrevistas na TV, a sugestão é ver (ou rever) “Terra em Transe”, o genial e premiadíssimo filme de Glauber Rocha. De 1967, não perdeu a atualidade. E “O Encouraçado Potemkin” (Bronenosets Potyomkin), 1925, de Sergei Eisenstein, perderia? Glauber coloca em cena gente como o poeta e jornalista Paulo Martins (Jardel Filho), dom Porfírio Diaz (Paulo Autran), Felipe Vieira (José Lewgoy) e outras personagens-limite. Como disse o crítico Pedro Butcher, Glauber assinou “a mais contundente resposta produzida pelo cinema brasileiro ao golpe militar de 1964”. Na forma de uma alegoria política de tons épicos, situada em um país interior chamado Eldorado, “dramatiza o ideário de direita que levou ao golpe de 64, mas sem poupar críticas à esquerda — principalmente ao arraigado populismo latino-americano”. Como esquecer o breve diálogo entre Paulo Martins e Felipe Vieira, o populista governador de Alecrim, capital de Eldorado? Em tom altamente demagógico, Vieira começa a falar sobre o povo, no que é interrompido pelo jornalista: “Mas, falando sério, Vieira”, e muda o rumo da conversa. Enquanto isso, Porfírio Diaz, “um Napoleão de Opereta”, empunhando uma a cruz, desfila solitário em carro aberto pela Avenida Atlântica igualmente deserta, fazendo um discurso digno das bravatas de generais franquistas. Algo como o “viva a morte!”

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