por Zé da Silva
Áries
Foi o bagaço da laranja. Ele inventou de engolir, de tão doce estava a fruta. Quatro horas depois estava numa sala de cirurgia. Meteram-lhe a faca para retirar a obstrução no aparelho digestivo. Saiu o bagaço e entrou o bagaço. Isso porque, na recuperação, perguntou ao senhor doutor se podia voltar a tomar umazinha. Tinha parado há três décadas, por conta de uma úlcera que gritava toda vez que entornava uma branquinha depois de presentear o santo. O médico autorizou. Ele saiu no faro do licor de Jurubeba. Quis recuperar o tempo e tomou toda a produção do Nordeste. Um dia foi atropelado numa esquina. Quebrou o maxilar. Estava tão bêbado que só foi sentir o drama depois de dois dias de mais uma cirurgia. Fez força para parar. Conseguiu. Mas não existia apenas Jurubeba no mundo. Entornava cerveja, sua preferida na primeira encarnação. Mas já estava fraco. Uma ampôla bastava para lhe tirar o prumo e o rumo. Foi o bagaço. Foi-se como bagaço.