por Vanderlei Rebelo

Norton Macedo era, talvez, o último remanescente de uma linhagem de homens públicos agora extinta. Nos três mandatos de deputado federal que exerceu – entre 1974 e 1986 – jamais abdicou das próprias convicções e só prestou satisfações de seus atos à solidão da consciência. Este não é exatamente um elogio. Longe disso. Claro que hoje jamais se elegeria para qualquer cargo público. Primeiro porque, na época em que fez Política, a influência do dinheiro no voto era bem menor – e o Norton nunca precisou comprar eleição. Nem faria isso. E em segundo lugar porque não se dobrava aos ventos da opinião pública. Acreditava que, conquanto o homem público deva estar a serviço da coletividade e do bem comum, não precisa necessariamente seguir cegamente a voz da rua ou os aconselhamentos pragmáticos do marketing político. Entendia que o exercício efetivo da liderança pressupunha capacidade para prever cenários e a coragem de apontar rumos, mesmo contra a corrente do pensamento dominante e com o risco do erro. Norton decidiu que seria deputado federal em 1948, aos 13 anos de idade, ao assistir a um discurso do então deputado Bento Munhoz da Rocha, cena eternizada numa foto que ele guardava carinhosamente. Bento seria seu modelo de inspiração. Norton tinha um gênio difícil, um temperamento que às vezes beirava o desagradável e um caráter inquebrantável. E nunca teve constrangimento de se assumir como membro da elite curitibana. Embora ele próprio – que fazia da leitura, não só de livros, mas também de pessoas, seu passatempo preferido – abominasse o atraso e a ignorância dessa mesma elite. Mas, pra quem o conheceu mais de perto, será lembrado como uma espécie de esteta da ética, título do artigo em que o filósofo Ernani Reichmann, nos já longínquos anos 1960, descreveu com rara acuidade a personalidade de seu grande amigo Norton Macedo.