19:24Entre a fantasia e a realidade

As imagens e textos das assessorias dos candidatos publicadas hoje seguem uma tradição e rotina que nunca sabemos onde termina a fantasia e começa a realidade. Há muito tempo as campanhas se transformaram em shows porque é através deles, principalmente no horário político da televisão, que a maioria do povo vota. O bla-bla-bla dos que se acham conhecedores, os alfabetizados da vida, esses, em sua maioria, não têm a dimensão do que é o eleitor que conta, o que vai eleger ou degolar este ou aquele candidato, porque ninguenzada, porque do andar de baixo, da senzala, perdido em bairros de periferia nos quartos e cozinhas da vida. Antes haviam os messias que sabiam como lidar com essa massa anônima, aqueles líderes que conduziam todos pela própria figura, pelo discurso, pela entonação de voz, pelo olhar, por medidas populares e a certeza de que eram decididos. Hoje restam poucos assim. Lula da Silva, este do comício de hoje, é um. De fato ele é o cara. Ele pode dizer que não sabia de nada e vai ser isso mesmo porque ele fala a linguagem deste povo que é o grande remador deste barco chamado Brasil. Roberto Requião é outro, com menos grau de intensidade, mas tem uma legião de seguidores que não querem saber se ele tem plano de governo, se está fazendo muito pelo social ou não. Votam na figura dele e fim de papo, mesmo que sejam xingados. Os outros, como Beto Richa e Osmar Dias, não são líderes como o conceituado acima, não são messiânicos, e estão iniciando uma disputa acirrada para o governo do Paraná no vácuo deixado exatamente por um líder, mas que se iludiu demais com a própria força e deixou um vácuo enorme a ser preenchido. É aí que entra a máquina da campanha, porque nem Richa nem Dias têm aquela aura que Lula, por exemplo, tenta passar para Dilma por osmose – e parece que está conseguindo, numa prova de que o presidente é um fenômeno que ainda não foi explicado. Como a eleição tende a ser decidida em cima do laço, uma visita à feira e ao mercado municipal como fez o tucano Richa hoje, conta – e ele explorando o lado galã de tv, que faz brilhar os olhinhos das crianças, convence a mãe, o pai, a família inteira e os vizinhos destes. Osmar Dias tem uma imagem séria, ressaltada pela barba branca que virou marca registrada mas o faz ganhar mais anos do que os 58 que tem. Ele abraçou o PT e costurou bem o acordo com o PMDB porque, nunca negou, era a única maneira de ter chance de ganhar a disputa. É homem da agricultura e das cooperativas e tem a difícil missão de afastar a paúra do MST, que foi ao comício hoje com um mar de bandeiras. Falou em companheiros e companheiras hoje no comício da Boca Maldita e falará em camaradas se necessário for, assim como vai tentar varrer a paranóia dos agricultores com palavras que ele sabe de cor, porque é do ramo. É disso que Wianey Pinheiro, o marqueteiro dele, vai cuidar e também de passar uma imagem menos dura, mesmo porque Osmar Dias não é o que parece – tem bom humor de sobra. Nelson Biondi, o cérebro da campanha de Beto Richa, vai explorar o lado de galã, o de realizador, o do homem que não fica brigando com os outros, etc. Os projetos de governo aparecerão, claro, mas como apêndices da imagem a ser “vendida”. Em todos os eventos dos candidato há homens com câmeras correndo desesperados para capturar imagens que serão utilizadas nos programas da propaganda eleitoral gratuíta. Até onde elas são reais, sinceras, nunca saberemos. No meio de toda a massa de informação preparada por equipes competentes, é preciso olhar direito para eliminar a fantasia, porque a realidade sempre vem depois que o escolhido assume o comando.

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