de Nelson Padrella
A donzela de Órleans estava acorrentada ao madeiro. As chamas já ganhavam força e os paus começavam a crepitar. Ao redor, uma multidão de ignorantes, gente do campo em sua maioria. Então, algo maravilhoso aconteceu.
Cada elo da corrente transformou-se em rosas brancas, que dançaram um instante sobre o populacho e depois tudo desapareceu. A guerreira pairou no ar, como sustentada por braços invisíveis e depois começou a descer lentamente os degraus sem queimar-se nas labaredas que lambiam suas vestes.
Junto ao povo, olhando para o alto como se estivesse vendo alguma figura alada, ela disse:
– Os demônios inimigos da Igreja de Cristo têm mil faces e mil maneiras de enganar. Eles se escondem em criaturas insuspeitas para praticarem crimes contra a Igreja. Mas eu vos digo, povo de França, que três poderosos demônios dominam nesse momento todo o planeta. O pior deles é o próprio Papa, que com os reis de França e da Inglaterra, que são os outros dois demônios, me condenaram ao suplício do fogo.
As pessoas afastavam-se, assustadas com tudo aquilo. Sussurravam, falavam em buscar o rei para justiçá-la.
Foi quando uma seta vinda não se sabe de onde atravessou o pescoço da guerreira. Ali mesmo foi morta com forcados e outros instrumentos de lavoura e atirada de volta ao formidável fogaréu.