por Zé da Silva
Gêmeos
Compraram o frango na padaria. E cidra. No calendário o dia 31 de dezembro. Eram amigos. Jovens. Todos tinham motivos para a distância dos pais. Beberam um pouco ali mesmo. Saíram sem destino na metrópole. Por que não o mar? Escolheram a estrada antiga, substituída por uma novinha de várias pistas. O relógio corria muito mais veloz que o carro. Tala larga. No meio da escuridão total faltava poucos minutos para a virada do ano. Iluminaram um quiosque com os faróis amarelos. Destrincharam o frango. Lambusaram as mãos. Espoucaram a rolha. Tomaram a cidra pelo gargalo. Correram feito crianças que eram no asfalto gasto. Foram adiante. De repente, pararam. Era a visão. Da usina lá embaixo. Era a árvore de Natal deles. Ficaram um tempão ali, admirados. Seguiram. Desceram a serra. Estacionaram perto da areia. Tiraram as roupas. Entraram na água em plena madrugada. Se sentiram batizados. E protegidos. Voltaram para a cidade grande. Não esqueceram a viagem.