por Zé da Silva
Leão
Dormiu em cima do livro. Era um livro grande, de poesias, que lhe chegou às mãos não lembrava como. Estava lá, num canto da vasta estante, até o dia em que, por algum motivo o viu, pegou, abriu, e nuca mais largou. Gostava de ler deitado, com as letras sendo iluminadas por uma luz quente de abajur. A cama era grande para um corpo só. Ele gostava do espaço e da maciez do colchão. Aquelas letras eram diferentes de tudo o quanto já tinha lido na vida. E ele tinha lido muito. Por prazer e dever de ofício. Mas aquelas palavras que ele lia, pareciam ser sussurradas por alguém ajoelhado ali ao lado, como um anjo a declamar aquelas coisas lindas que ficaram esperando o momento certo de iluminar o universo.