17:13HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Libra

Tomou a água de valeta porque gostou do nome. Viu o copo alto de longe e aquela cor. Que era de água de valeta. Pediu. Tomou. Tinha um gosto amargo como sua vida. Naquele fim de tarde foram cinco talagadas. Saiu para a praça e não sabia mais se era noite ou dia. Apagou a memória. Recobrou-a e era dia. Estava caído. Machucado. Rasgado. Ferido pela luz do sol e pelos olhares de quem passava pela rua do centro daquela cidade. Água de valeta, lembrou. Nunca mais bebeu aquilo, mas sua vida estava dentro. Bebeu outras coisas, mais leves, mais pesadas. Não morreu. Alguma coisa aconteceu em seu coração. Ele hoje ouve a música, mas nunca passou na São João. Passa nos corredores dos supermercados, olha para os dois lados, vê garrafas até o teto e é como se aquilo fosse um filme, não fosse real, apesar de estar à distância do movimento de seu braço. A alma dele ri. De felicidade. Um dia explicou para o neto, na chácara em que estava, para ele não entrar naquela poça de água suja no meio do barro. O neto perguntou o nome daquilo. Ele começou a rir e enfiou os dois pés com o menino no colo. Numa árvore próxima um passarinho cantou e o vento soprou a canção da natureza.

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