19:07HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Capricórnio

O número veio e ele nunca soube de onde. Por isso mesmo passou a jogar sempre na combinação milhar, centena, seco e molhado. Todo dia, em todos os sorteios. Conferia, conferia e nunca passou perto. Mas o número estava marcado a ferro e fogo na mente. Jogava tanto que, ao receber o salário, separava o que gastaria no mês com ele. Guardava o dinheiro numa caixinha de madeira que tinha mandado fazer. Com o número esculpido na tampa. Um dia perdeu o emprego e entrou em desespero. Não pela possibilidade de ser despejado do quarto de pensão, nem por correr o risco de não ter o que comer. Sua paúra era por imaginar faltar dinheiro para o seu número. Pois, de fato, um dia a caixinha ficou vazia. Ele se desesperou. Era um sábado e o próximo sorteio era o da loteria federal. Não conseguiu convencer os poucos amigos a lhe emprestarem aquela miséria. Saiu pelas ruas da cidade alucinadamente. Tentou se fingir de mendigo. Não deu certo. Pediu num cruzamento de avenidas. Não recebeu. Arrancou a bolsa de uma idosa que lhe passou a frente. Sim, ali tinha o suficiente para o jogo. Correu para o lugar onde sempre apostava. Sempre achou que não deveria mudar. Chegou atrasado. E perdeu o milhar.

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