por Zé da Silva

Áries

Pensava. E acontecia. Pensava. E acontecia. Foi sempre assim. Naquele dia, quando ainda usava calças curtas e suspensórios, toda a voluptuosidade da filha do dentista do bairro tomou conta do seu corpo. Alguns minutos depois era ela batendo palmas no portão da casa da frente. Entrou, cumprimentou os mais velhos, disse que a visita não tinha um propósito, apenas queria espairecer. Tinha discutido com alguém da família. Então, chorou. O menino ficou triste e chegou perto. Começou a chorar também. Ela enxugou as lágrimas, fez um carinho na cabeça dele e o colocou  no colo, encostando-o junto aos seios. Ele tremeu e se aninhou em silêncio. Sentiu o perfume e a maciez. Acordou adulto e tudo que lhe vinha à cabeça… Coisas boas e coisas ruins. Frequentou psiquiatras, terreiros de umbanda, templos religiosos e pagãos. Nada mudou. Estava cansado. Queria apenas a surpresa do dia seguinte. E agora torcia para a possibilidade de um dia pensar em desaparecer para sempre.