9:55Um jornal chapa-branca

Trecho do livro “Richa, o político“, dos jornalistas Helio Teixeira e Rose Arruda: 

O jornal “Correio de Notícias” nasceu para dar apoio ao Governo Richa, mas acabou elegendo Roberto Requião prefeito. Suas máquinas pertenciam ao empresário Faruk El Khatib. O secretário de Estado da Cultura Fernando Ghignone e o deputado federal Sebastião Rodrigues incentivaram sua criação, que contava ainda com o apoio de João Simões, presidente do forte Sindicato das Empresas do Transporte Coletivo de Curitiba e Região Metropolitana. 

 A idéia nascida em 1984, resultante do incômodo provocado pela bateria incessante de críticas assestadas pelos jornais e TVs de Paulo Pimentel, entrincheirado nas hostes políticas oficiais, estava emperrada. 

Richa chamou ao Palácio Iguaçu o jornalista Mussa José Assis, que estava na chefia da Editora “O Estado do Paraná”, principal jornal de Pimentel. Richa e Mussa, velhos amigos, se entenderam rapidamente. 

– Turquinho, quero que você monte o jornal para mim, disse Richa. 

– Mas lá tem muito cacique. Com quem falo, questionou Mussa. 

– Com o Sebastião (Rodrigues), finalizou Richa. 

                                                *****

Na primeira sede, na Rua Amintas de Barros, próximo à Reitoria da Universidade Federal do Paraná, havia apenas um funcionário cuidando das máquinas. Mas como ocorre até hoje no mercado profissional, o que não faltava era jornalista desempregado em Curitiba. Essa foi a primeira “qualidade” exigida por Mussa nas contratações. 

 Não foi difícil armar um time de qualidade. Desembarcaram na redação os jornalistas Luiz Geraldo Mazza, Fábio Campana, Tato Taborda, Ricardo Prefeito, João Batista, Rosirene Gemael, Débora Yanklevitch, além de Cícero Cattani e sua mulher, e diagramadora Carmem, entre outros e outras. 

Dante Mendonça e Seto desenharam o jornal. No dia 15 de maio de 1984, depois de 60 dias de edições-piloto, aterrisava nas bancas o “Correio de Notícias”, um mês antes do primeiro comício das Diretas em Curitiba. 

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No ano seguinte seria travada a grande batalha pela Prefeitura de Curitiba, empurrada pelos ventos da redemocratização do país. 

Mussa voltou a Richa: 

– Governador, quem é o nosso candidato? 

– O nosso candidato é o Amadeu Geara, jogue com ele, disse-lhe Richa. 

E assim se fez, até que um belo dia Roberto Requião, fiel ao seu estilo, invade a redação atrás de Mussa. 

– Mussa, eu vim saber o que está acontecendo,questionou Requião. 

– Acontecendo o quê? 

– Pô, por que só o Geara? 

– Claro, o jornal está apoiando o Geara, não está apoiando você. 

– Mas o Correio não é um jornal do PMDB? 

– Não, esse jornal é meu, o diretor sou eu. Requião é o seguinte: tente ganhar a Convenção do PMDB. Se você ganhar, o jornal pode apoiá-lo, mas até lá o candidato é o Geara, retrucou Mussa. 

                                       ***** 

Requião saiu mais nervoso do que entrara, tinha amigos na redação e não aceitava a postura do jornal. Vem a Convenção e ele vence. Não demorou muito para retornar ao jornal e sentar em frente de Mussa: 

– Você não disse que seu ganhasse a Convenção o jornal seria meu? 

– Não, o jornal passa a apoiar você, respondeu Mussa. 

Nessa altura do campeonato não só o jornal, mas também o Governo Richa se abraçaria ao candidato do PMDB, combatendo Jaime Lerner. 

Eram rodadas de 60 a 80 mil prints (cópias) da primeira e da contracapa como instrumento para panfletagem em toda a cidade. 

 – Nunca um candidato teve isso. Um veículo de comunicação, diariamente, panfletando. Então nós demos a vitória ao Requião. 

Ao término do governo Richa, Mussa deixou o Correio porque o sucessor Álvaro Dias não tinha interesse no jornal, retornando em maio de 1987 ao“O Estado do Paraná”. 

Depois de sucessivas crises, o “Correio de Notícias” deixou de circular em 1990. Mussa deixou O Estado do Paraná em 2009.

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