16:51Izabela

Era a intelectual da família. No domingo, faria 51 anos. Uma criança. No dia 1 de junho completou um ano que ela foi embora naquele trágico vôo da Air France. Amanhã, os pais, irmãs, familiares e os muitos amigos que fez na vida e, principalmente, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde dava aula, estarão na missa a ser celebrada na Igreja de Santa Rita de Cássia, no Rio de Janeiro, às 9h. Minha prima Izabela Maria Furtado Kestler vivia literatura. Alemã. Sua tese de doutorado versou sobre os escritores alemães e austríacos que vieram para o Brasil no período que antecedeu e durante a II Guerra Mundial. Ela viveu 10 anos na Alemanha estudando na centenária Universidade de Fraiburg. A tese virou livro (EXÍLIO E LITERATURA : Escritores de Fala Alemã durante a Época do Nazismo) que chegou na reta final na disputa do Prêmio Jabuti. Todo o material que produziu foi doado à Casa Stefan Zweig. Era uma morena carioca da gema filha de alagoano com paraibana. Depois que voltou definitivamente ao Brasil, seu apartamento ficava num prédio antigo, numa rua antiga, no Flamengo, no Rio dos sonhos de quem também adorava cinema e fotografia. Izabela também se  apaixonou  pela literatura policial do grande Raymond Chandler – e isso foi uma revelação que nos aproximou ainda mais, apesar da distância geográfica. Nossos encontros sempre foram esporádicos, mas marcantes. Quando crianças, nas férias que eu passava no Rio de Janeiro – e aí eu já presenciava sua paixão pela leitura pois, como dizia minha mãe, “ela não tirava o livro da frente da cara”. Depois, adultos, mais esporadicamente, mas nos falávamos ao telefone – e uma das vezes foi quando vi seu nome citado numa coluna escrita pelo também saudoso Paulo Francis, o que eu considerava uma grande conquista para ela. Nosso último encontro foi na frente da Universidade Federal do Paraná, onde veio dar uma palestra ou algo parecido, já que era uma das 10 especialistas em literatura moderna alemã que o Brasil tem. Nunca agradeci por ela ter me influenciado no ato da leitura, que veio muito mais tarde, mas, talvez, com a mesma e apaixonada intensidade. Por isso digo sempre que essas pessoas não partem. Foram dar uma volta e ficaram aqui com a gente. Para sempre.

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