9:24Três meses de denúncias

Há exatos 90 dias os repórteres Gabriel Tabatcheik, James Alberti, Karlos Kohlbach e Katia Brembatti, da Rede Paranaense de Comunicação, iniciaram a série sobre os “Diários Secretos da Assembleia” que, como já foi escrito aqui várias vezes, não é só um marco na história do jornalismo do Paraná, mas também, e principalmente, na política deste Estado. Com poucos erros e muitos acertos o trabalho desta jovem equipe colocou holofotes sobre práticas podres da administração do Legislativo do Paraná, uma amostra do que se faz em outros poderes ainda não contemplados com este tipo saudável de investigação. As reportagens da equipe fizeram o favor de levantar um manto sobre os porões infectos que eram conhecidos, mas que se mantinham fechados com a conivência do compadrio entre os poderes e a contemplação amorfa da própria imprensa, até porque os senhores empresários do setor também se beneficiavam da rede de contemplação e da ideia de que “sempre foi assim e não vai mudar”. As reportagens fizeram o Ministério Público do Paraná cumprir o papel que deveria ser sempre seu e, nesse sentido, a carta do promotor Fuad Faraj ao procurador-geral da Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, sacudindo todo o Ministério num momento em que se vislumbrava a continuação do “compadrio”, pois a Assembleia queria se investigar – e com a “ajuda” do MP e do Tribunal de Contas. O que se viu depois foi, em grande parte, espetáculos, que culminaram com a liminar do ministro Dias Toffoli que anulou as investigações criminais (o mérito ainda será julgado pelo colegiado do STF). E, o pior, uma tentativa de se criar um movimento que, com os surfistas de sempre, principalmente do “idealizador”, a OAB do Paraná, até então muda para as questões importantes que afetam os paranaenses. Na verdade, o apoio da RPC com uma carga de anúncios na televisão e nos jornais quase soterrou o principal, que é o trabalho investigativo dos repórteres. A manifestação, pelo que se esperava, foi um tiro n’água, ainda mais que aconteceu poucas horas depois de ser revelada a decisão do ministro do STF que acabou libertando o principal acusado das falcatruas, o ex-diretor geral Abib Miguel, o Bibinho. Hoje o jornal Gazeta do Povo faz reportagem de capa sobre os 3 meses de denúncia. Acerta quando diz que a Assembleia Legislativa mudou. Erra quando diz que mudou a conscientização do povo. O povo, assim como os jornalistas, sabia, por presunção, o que acontece nos bastidores dos poderes que lidam com o sagrado dinheiro dos impostos que ele paga. O que a RPC fez deveria se resumir a isso: investigar e mostrar. O resto é com o Ministério Público e a Justiça. É o que deve continuar fazendo. Mas não só nesse caso e não só ela, a RPC. A série dos “Diários Secretos” tomou conta das manchetes e, muitas vezes, pareceu ter se transformado em birra, em briga quase que pessoal. Há muitos podres no Paraná. A Assembleia mudou porque, antes de tudo, qualquer político que pensar em meter os pés pelas mãos agora vai pensar dez vezes. Isso já é um grande avanço. O que se espera também é que os holofotes não se apaguem. Se alastrem. Para que estes senhores que se achavam impunes saibam que todos estão de olho no que fazem com nosso dinheiro. Para acessar a série de matérias publicadas:http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/diariossecretos/

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