de Zé da Silva
Capricórnio
Tinha o pior dos preconceitos – contra ele mesmo. Carregava-se como se tivesse o peso de uma manada de elefantes. Não sabia porque vivia. Respirar era algo como engolir tempestade no deserto. Quando se deu conta estava diante do pequeno espelho de uma clínica pública. Escondia-se sob cabelos imensos na cabeça e no rosto. Não sabe porque olhou nos próprios olhos. Achou que era a primeira vez na vida. Gostou. Eram verdes. No dia seguinte raspou todos os pelos da cabeça e ao invés de ver uma carcaça de mil anos, enxergou um senhor com traços de vida aos 50. Um dia saiu dali e mesmo o ar poluído por ônibus de um terminal lhe fizeram bem. Olhou as pessoas. Sentiu as pessoas. E se sentiu como parte. Meio sem jeito, mas parte. Um cachorro latiu. Ele olhou. O cachorro congelou o olhar e aquilo era amor. Uma araucária cruzou seu caminho. Ele viu Deus em toda ela. E assim foi. Assim é. E ele não luta mais contra.