…O estilo brasileiro de jogar, segundo (Gilberto) Freyre, contrasta com o dos europeus por um conjunto de qualidades: capacidade de surpreender, manha, astúcia, ligeireza e, ao mesmo tempo, brilho e espontaneidade individual. Em nossos passes, dribles e floreios com a bola há alguma coisa de dança e capoeira que arredonda e, às vezes, adoça o jogo inventado pelos ingleses (ou italianos etc.) e por eles jogado de forma tão angulosa.
O nosso futebol, com sua criatividade e alegria, é expressão de nossa formação social, rebelde a excessos de ordenação interna e externa, a excessos de uniformização, de geometrização, de estandartização, e ainda a totalitarismos que façam desaparecer a variação individual ou a espontaneidade pessoal. O futebol no Brasil se fez marcar por um gosto de flexão, de surpresa, que lembra passos de dança aberta ao improviso, à diversidade e à espontaneidade individual.
Enquanto o futebol europeu é uma expressão do método científico e do esporte coletivo, em que a ação pessoal resulta mecanizada e subordinada à do todo, no brasileiro a máxima é a expressão individual da pessoa que se destaca e brilha. Isto é, um craque como Paulo Henrique “Ganso”.
de Sócrates, na coluna “Pênalti” da revista CartaCapital