por Zé da Silva
Libra
Do outro lado da rua a moça abriu a janela e o rosto era belo e limpo ao ponto de iluminar aquele trecho de rua poluído. Ele pensou assim mas alguém enfiou as palavras pesadas na sua mente. Ela é de programa. Trabalha num dos inferninhos da região. Do lado de onde ele via o rosto que procurava algo enquanto caía uma chuva fina na manhã fria, havia uma igreja. Do lado dela, sim, boates de quinta categoria que esperavam os desgarrados da periferia com algum dinheiro no bolso. Todos os filmes e histórias que sabia sobre meninas que entraram e saíram daquela vida lhe invadiram. Ele não ouvia mais o outro, mas pensava nos cavaleiros que se apaixonaram e casaram com estas princesas que ficam na janela esperando, esperando, esperando.