5:30Louvação da quietude

Escrituras de luz investem na sombra, mais prodigiosas que
      meteoros.
A alta cidade irreconhecível avança sobre o campo.
Certo de minha vida e de minha morte, fito os ambiciosos e
      tento endentê-los.
Seu dia é ávido como o laço no ar.
Sua noite é trégua da ira no ferro, prestes a atacar.
Falam de humanidade.
Minha humanidade está em sentir que somos vozes de uma
       mesma penúria.
Falam de pátria.
Minha pátria é um lamento de guitarra, alguns retratos e
       uma velha espada,
e desvelada prece de salgueiros nos fins de tarde.
O tempo está vivendo-me.
Mais silencioso que minha sombra, cruzo o tropel de sua
       exaltada cobiça.
Eles são imprescindíveis, únicos, merecedores da manhã.
Meu nome é alguém e qualquer um.
Passo devagar, como quem vem de tão longe que não espera
       chegar.

de Jorge Luis Borges

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