9:47Dois “laranjais” de R$ 26 milhões

Do jornal Gazeta do Povo, em reportagem de Karlos Kohlbach, Katia Brembatti, James Alberti e Gabriel Tabatcheik (http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/diariossecretos/):

Desvio na AL já comprovado é de R$ 26 milhões
Segundo o MP, esse foi o montante de dinheiro desviado por meio de apenas duas famílias de fantasmas e laranjas

A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) já conseguiu comprovar que o esquema de corrupção montado dentro da Assembleia Legislativa do Paraná (AL) desviou pelo menos R$ 26 milhões dos cofres públicos. Esse montante, sem correção monetária, se refere apenas aos depósitos feitos pela Casa na conta bancária de 17 funcionários fantasmas – oito parentes do funcionário João Leal de Mattos e nove de Daor Afonso Marins de Oliveira – este último, foragido da Justiça.

Os promotores do Gaeco, braço do Ministério Público Estadual (MP), identificaram que nenhum deles de fato prestou expediente no Legislativo. Mas o grupo recebeu R$ 26 milhões em salários desde 1994. Foram R$ 13 milhões envolvendo a família Leal, como já havia sido revelado há duas semanas. Agora surgem outros R$ 13 milhões comprovadamente desviados por meio do pagamento de salários aos familiares de Daor Oliveira.

Na última sexta-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva de Daor Oliveira. Uma nova prisão preventiva também foi decretada para os ex-diretores Abib Miguel (diretoria-geral), José Ary Nassiff (diretoria administrativa) e Cláudio Marques da Silva (de pessoal). Os ex-diretores estão detidos acusados de desvio de dinheiro, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Os promotores sustentam que Abib Miguel, conhecido como Bibinho, chefiava uma quadrilha montada dentro da Assembleia para desviar dinheiro público. Nassiff e Cláudio Marques teriam envolvimento direto na contratação de funcionários fantasmas com o objetivo de se apropriar das verbas públicas do Legislativo. Leal de Mattos e Daor Oliveira teriam a função de obter documentos pessoais de seus familiares para possibilitar a contratação deles na Assembleia.

Daor Oliveira é corretor de imóveis e trabalha na mesma sala comercial, num prédio no centro de Curitiba, onde funciona uma empresa de Bibinho e Nassiff. Ele tem cargo em comissão na Assembleia e conseguiu emprego para Roseli do Rocio Luccas de Oliveira (esposa), Luiz Alonso Luccas de Oliveira (filho), Maureen Louise de Oliveira (filha), Clori de Oliveira Gbur (irmã), Pierre, Alessandro e Eduadro Gbur (os três sobrinhos), e para Glaucilene de Souza Gbur (esposa de Pierre) e Thayse Pereira Gbur (esposa de Alessandro).

A reportagem da Gazeta do Povo e da RPCTV tiveram acesso ao depoimento de Maurren Louise de Oliveira. Maurren disse ter certeza de que ela, o pai, a mãe e o irmão nunca trabalharam na Assembleia. Afirmou ainda desconhecer o fato de seu nome aparecer na lista de funcionários da Casa divulgada pelo presidente Nelson Justus (DEM) em 2009.

Maurren contou também que acredita que os demais parentes também não trabalharam na Assembleia. “Luiz Alonso é ator, mora em São Paulo. E, quando morou em Curitiba, trabalhava como professor de Educação Física. Pierre é garçom. Eduardo, taxista. Alessandro é funcionário de uma empresa. Glaucilene é do lar e Thayse, funcionária de uma empresa”, disse ela.

No depoimento aos promotores, Maurreen contou que recebe apenas R$ 900 como estagiária num escritório de advocacia. Mas documentos obtidos com exclusividade pela Gazeta do Povo e pela RPCTV revelam que a Assembleia fez 16 depósitos na conta bancária dela, entre 2006 e 2009, que totalizaram R$ 286 mil. Só em setembro de 2006 a Assembleia pagou R$ 25 mil de salário para Maureen. Para receber esse volume de dinheiro ela teria de trabalhar por dois anos no atual emprego.

A situação do irmão dela é ainda mais grave. Maureen afirmou que Luiz Alonso trabalha como ator em São Paulo, onde mora há dois anos. Mesmo a distância, a Assembleia depositou R$ 238 mil na conta bancária dele entre os anos de 2008 e 2009.

A reportagem tentou falar com Daor Oliveira pelo telefone celular, mas o aparelho dele estava desligado.

Ex-foragido

O contador Douglas Bastos Pequeno – que cuidava da contabilidade de uma das fazendas do ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa do Paraná Abib Miguel – foi ouvido na semana passada pelos promotores do Gaeco. Pequeno estava foragido da Justiça desde 8 de maio, quando o MP deflagrou a Operação Ectoplasma 2.

Pequeno se apresentou com o advogado e prestou depoimento, sendo liberado em seguida. O mesmo fizeram Maria Advair Bastos Pequeno e Josiane Bastos Pequeno – respectivamente mulher e filha de Douglas.

Pequeno, a mulher e a filha eram três das 13 pessoas que estavam foragidas. Elas foram informadas dois dias antes da operação do Gaeco e conseguiram fugir – vazamento que está sendo investigado pelos promotores. As outras 10 pessoas, que não tiveram o nome divulgado, estão sendo procuradas pela Justiça.

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