Fantasmas continuam a receber
Mesmo depois das denúncias da Gazeta do Povo e RPC TV, Assembleia pagou salários de R$ 12 mil no mês passado para pessoas que não trabalham na Casa
Dois funcionários fantasmas da Assembléia Legislativa do Paraná, mostrados na série de reportagens “Diários Secretos”, receberam salários no mês passado – mesmo depois das denúncias da Gazeta do Povo e da RPC TV virem à tona. O relatório da sindicância interna para apurar as irregularidades, aberta pelo presidente da Casa, deputado Nelson Justus (DEM), revela que o Legislativo estadual pagou, em abril, R$ 12,3 mil para o taxista Eduardo José Gbur e R$ 12 mil para o capitão aposentado da Marinha do Brasil Carlos Eugênio Maurmann Cardoso, que mora em Balneário Camboriú (SC).
Por uma determinação da direção da Assembleia, os resultados da investigação interna não foram divulgados, o que provocou críticas por parte dos deputados estaduais. Mas a Gazeta do Povo e a RPC TV tiveram acesso, com exclusividade, ao levantamento da sindicância da Casa. O relatório traz as fichas funcionais e a folha de pagamento de todos os funcionários do Legislativo mostrados na série “Diários Secretos”.“Trabalho infantil”
A sindicância mostra ainda que a prática de “contratar” crianças para trabalhar em cargos comissionados foi usada mais de uma vez na Casa. Documentos comprovam que Viviane Bastos Pequeno, Aguinaldo Pereira Lima Neto e Erick Salles receberam salários quando tinham menos de 18 anos. Viviane nasceu em novembro de 1985 e desde janeiro de 1995 ela recebe da Assembleia. O primeiro salário delafoi de R$ 1,2 mil, quando tinha 9 anos.
Erick Salles, que é neto de Douglas Bastos Pequeno, que faz o serviço de administração da fazenda do ex-diretor-geral da Assembleia, Abib Miguel, em Goiás, ganhou o primeiro salário da Casa quando tinha 10 anos. Já Aguinaldo Pereira Lima Neto, que tinha 14 anos quando recebeu R$ 1,3 mil de salário da Assembleia, em abril de 1995, foi mostrado na série “Diários Secretos” como um dos funcionários que ganhavam salários acima do que é previsto pela lei. Além do alto salário, ele recebeu da Assembleia enquanto estudava o curso de Engenharia Ambiental em Itajaí (SC), entre 2002 e 2006.
A Gazeta do Povo e a RPC TV já tinham mostrado o caso de Priscila da Silva Mattos que começou a receber salários da Assembleia quando tinha apenas 7 anos de idade. Priscila é filha de João Leal de Mattos, que empregou familiares no legislativo sem que elas soubessem. Em troca de pequenas quantias de dinheiro, Mattos usava os documentos pessoais dos parentes para contratá-las no Legislativo estadual. Pela conta da família Mattos, o MP estima que tenha passado mais de R$ 20 milhões – valor que teria sido desviado tendo como o principal beneficiário o ex-diretor Abib Miguel.
Outro lado
A Diretoria de Comunicação da Assembleia Legislativa do Paraná informou que vai se manifestar hoje sobre os resultados da sindicância interna.
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Doméstica não é funcionária, diz documento
A sindicância da Assembleia Legislativa também apontou que a empregada doméstica Ana Maria Vosilk não é e nunca foi funcionária da Casa, mas não explicou como ela recebeu R$ 38 mil do Legislativo estadual.
A declaração que Ana Maria nunca pertenceu ao quadro pessoal da Assembleia é do diretor de Pessoal afastado, Antonio Carlos Gulbino.
Documentos obtidos com exclusividade pela Gazeta do Povo e pela RPC TV revelam que a Assembleia fez pelo menos dois depósitos em nome de Ana Maria – um em novembro de 2005, no valor de R$ 19,8 mil, e outro em junho de 2006 de R$ 19 mil. Ela é filha de Izidoro Vosilk, o jardineiro da casa do ex-diretor-geral Abib Miguel, o Bibinho, que está preso acusado de desvio de dinheiro, formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Izidoro também recebeu dinheiro da Assembleia, mesmo sem nunca ter trabalhado. Ana Maria Vosilk, assim como o pai, trabalha na residência de Bibinho.