O povo nos tubos

Fotos e texto de Lineu Filho 

Quando espero um ônibus em alguma estação tubo fico percebendo os detalhes da maravilha do design que são essas simples paradas de ônibus. E sempre concluo que talvez sejam maravilhosas demais.

Quem usa o transporte coletivo sabe muito bem que os tais tubos não são nada aconchegantes. No inverno são frios e durante o verão são extremamente quentes. Quando chove sempre aparecem goteiras e problemas nos sensores das portas. Não há lugar para as pessoas idosas esperarem sentadas.

E os pobres dos cobradores? São eles os primeiros a entrarem pelo tubo, pois ficam expostos ao frio e calor durante toda a jornada de trabalho. Além disso, não existe banheiro. Assim, para dar vazão aos chamados mais urgentes da natureza, eles dependem da caridade dos comerciantes das redondezas que emprestam o banheiro, ou usam como vaso sanitário as lindas floreiras da cidade.

Além de serem obras “anti-humanas”, os tubos são possivelmente o que existe de mais caro em termos de manutenção no transporte coletivo da cidade. Se gasta os tubos para mantê-los. Primeiro porque são feitos de vidro, e o vidro é algo pouco resistente ao vandalismo. As plataformas, para elevar cadeiras de rodas, também parecem mais algo para justificar a própria existência do que para executar a função proposta.

Então porque não construir estações com materiais convencionais? Como concreto, telhas e tijolos. Porque não evoluir e criar um espaço mais humanizado, que pode ter um banheiro e ventilação adequada? Aposto que pintar uma parede riscada seria muito mais barato do que trocar vidros temperados caríssimos. Porque usar caros elevadores para os cadeirantes? Creio que simples rampas, bem dimensionadas, podem facilitar o acesso e permitir eles se locomovam sem ter que pedir ajuda para os ocupados cobradores?

Creio que esses tubos são uma extravagância com o dinheiro público, algo que tem mais relação com uma idéia de cidade moderna do que com a verdadeira função que eles devem ter. Na minha opinião, esses tubos são a solução para quem os fabrica e para os que ganham os tubos com a sua manutenção.