de Ribeiro Couto*
Na amurada do cais uma mulher doente,
Como ave que desce o vôo, vem pousar.
E fica junto de mim, melancolicamente,
Olhando o mar, olhando o mar, olhando o mar.
Asas além no céu de cinza… O vento é frio.
E a mulher, apoiando o rosto sobra a mão,
Contempla no horizonte o vulto de um navio,
E os velames que vêm… e os que vão…
Chega-se para mim… Estará comovida?
Ela sofre… No estranho olhar dessa mulher
Noto a fulguração de quem sonha na vida
Uma felicidade inédita qualquer.
Chega-se mais… a tarde tem uns tons antigos.
Abraçamo-nos… Anda uma carícia no ar…
E ficamos os dois, como velhos amigos,
Olhando o mar… olhando o mar… olhando o mar…
*Extraído da crônica “Apologia de um poeta”, publicado por Manuel Bandeira no jornal “O Dia” em outubro de 1921, onde ele comenta o livro “Jardim das Confidências” e chama de mestre o poeta de apenas 23 anos