10:11Ao Saul do Trumpete

Saul do Trumpete, 67 anos hoje

Saul, você merece mais que os parabéns pelos 67 anos de vida que completa hoje. Nos encontramos por aí algumas vezes, nestes quase 20 anos em que puxei o freio e parei de beber (só por hoje) para não morrer. Você passou por outro problema de saúde sério, há exatos dez anos, e, graças a Deus, está aí a mostrar, com seu talento, a importância da vida. Você virou nome de prêmio de música, homenagem mais que merecida, mas que, ainda assim, não mostra a real dimensão do que significou em nossas vidas aquele espaço que você abriu e sempre nos recebeu com o coração aconchegante e embalado pela música, na Cruza Machado quase esquina com a Cabral, ponto de referência para qualquer boêmio que se prezava nos anos 80. Cozidos e não cozidos, sua catedral, batizada de Saul Trumpet Bar (era assim mesmo), para este beque aqui eternamente Trumpete, era o ponto máximo de uma via sacra que tinha no Kapelle, da maravilhosa Mara, este bar que ainda sobrevive na Saldanha Marinho, outro ponto a ser visitado antes do retorno ao lar, seja de que maneira fosse. Mas o seu canto era sempre o último, o da saideira sagrada, porque quando chegávamos ali, dizíamos a nós mesmos, “estávamos prontos”. Para a oração dos achados e perdidos na vida, para os felizes e infelizes. E ao ouvir sua música, com o trumpete sempre coadjuvado pela guitarra do grande Henrique, enorme no tamanho e talento, tão tranqüilo e infalível que a gente, não se sabe bem porquê, se sentia protegido, ao ouvir vocês, naquele cantinho do mundo, o resto ficava na devida proporção do resto, lá fora, distante e a vida tinha um motivo para ser vivida. Você não sabe, mas foi ali que comemorei numa madrugada o nascimento da minha filha mais nova. Eu e meu amigo saudoso Pedro Franco Cruz. Era uma madrugada gelada de junho, rolava uma Copa do Mundo, a de  1.986. No oco da madrugada alguém entrou vendendo a Tribuna. Ali dentro, havia um poema que escrevi no dia anterior para a menina Tarsila e o Dante Mendonça ilustrou. Ontem, Saul, para você saber e compartilhar outra alegria, ela apresentou o trabalho de graduação em Design de Móveis na Universidade Tecnológica Federal – e foi aprovada, fechando mais um ciclo da vida deste velho aqui, pois os irmãos mais velhos dela, Yuri (arquiteto) e Ticiana (turismóloga) estão lá tocando a vida com seus canudos da Federal do Paraná. Você e seu bar, Saul, portanto, fazem parte da minha e da vida de uma legião. Essa teia, para mim, se completa com os senhores Jorge Eduardo França Mosquera, o Jorjão, jornalista do primeiro time e agora advogado, e o Carlos Sdroyewski, fotógrafo que há muito não vejo, mas que também amo, porque meu amigo de alma. E eu tenho certeza que a paixão que tenho por estes dois foi sedimentada também numa das mesas do seu templo e ouvindo a música que você nos presenteava toda madrugada. É do seu bar uma das cenas que mais me marcaram, e protagonizada por outro amigaço, o “Polaco” Orlando Kissner, um dos melhores fotógrafos de esporte do mundo. Ele estacionava o Opala quatro portas, azul calcinha, ali na frente, e cujo destaque era o plástico colado no vidro traseiro onde se lia “A inveja é uma merda”, entrava e pedia sempre, ou no ato de entrada ou no meio dos drinkes, como ele fala, “Saul: toca o Summertime”. Claro que você tocava este clássico e mais outros e outros e outros do cancioneiro da alma, do cancioneiro de nós, eternos românticos. Isso porque você é um dos nossos, meu caro. E é muito bom saber que você está aí, entre nós, para sempre. Obrigado.

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