por Zé da Silva
Virgem
Trupicou na capucheta. Primeiro ele ouviu alguém dizer capucheta e voou como ela. Uma espécie de pipa, mas feita só de jornal, cuja técnica de confecção jamais esqueceu, mesmo porque estes prazeres da infância não saem nunca da alma. Depois ouviu alguém falar, ou sonhou, não lembra, em trupicar, um verbo, sim, linguajar popular, de vila, que significa tropeçar. A sonoridade entrou com tudo. Ele escreveu depois, na tela do computador, e ouviu. E trupicou e se arremessou para o ar em busca da capucheta que estava voando demais, pois alguém estava dando linha, soltando, soltando – e o vento era forte e ela, a capucheta, ficou apenas como um pontinho preto contra o céu azul. Mas ele chegou lá. E ela balançava a rabiola e serpenteava. Mas ele conseguiu dar a volta, porque ela parou de ir e ir e ir. Então, surpresa! Conseguiu ver que havia uma letra de música nas costas do brinquedo. Tinha a ver. Voa Jorge! Voa Jorge! Traz uma estrela pra mim.