12:27Assustador!

De Rogerio Distefano, no Maxblog (www.maxblog.com.br):

Fantasmas: do capilé ao ectoplasma

O escândalo dos funcionários fantasmas está prestes a completar duas semanas de exposição pela Gazeta do Povo e pela televisão do mesmo grupo de comunicação. Fique claro que um único órgão de comunicação ocupa-se do maior escândalo político da História do quarto Estado da federação. A própria cobertura apresenta oscilação: depois de quatro dias sucessivos de impacto entra em processo de arrefecimento.

Fica a impressão de que a Gazeta do Povo sentiu o impacto da pouca repercussão de suas reportagens – confinada a (1) seus leitores, (2) aos blogs políticos e (3) aos políticos envolvidos no episódio. A mobilização tentada por organizações da sociedade civil – estudantes, na maioria – reduziu-se a duas esquálidas e raquíticas manifestações diante da assembleia legislativa. De importância, apenas a reação dos envolvidos no escândalo e na – assim dita – investigação do escândalo: os dirigentes da assembleia, do ministério público e do tribunal de contas.

Da assembleia só se percebe a catatonia que atacou os deputados Nelson Justus e Alexandre Curi, que – afora as razões de preocupação que todos conhecem – mais parecem surpresos pela quebra do código de cumplicidade e apoio pelo principal órgão da imprensa do Paraná. Não permaneçamos na hipocrisia de pensar que nunca houve, no Paraná, um inquebrantável código de cumplicidade entre política e imprensa. Pode-se dizer que o presidente e o primeiro-secretário da assembleia legislativa se vêm aturdidos, perdidos, diante de seu principal deseleitor, para eles a Gazeta do Povo.

Se para os dois deputados os fantasmas geram catatonia, para Olympio Sotto Maior a reação foi mais grave, de clara paralisia histérica: o procurador geral da Justiça enfrentou a primeira crise funcional e política de sua – até agora – venturosa existência. O escândalo dos fantasmas o expôs à esperta manipulação por parte de Nelson Justus, ao tentar atrair o ministério público para uma comissão de fancaria, montada em parceria com o tribunal de contas.

Como as boas ações não ficam impunes, Olympio permitiu a punição de quem o poupou do ridículo terminal, o promotor Fuad Faraj, que revelou a trama que se armava contra o ministério público. A cada vez que tentava explicar na imprensa seu comportamento no episódio, Olympio assumia o patético em frases gaguejantes: seus parentes não estão na assembleia pelo nepotismo; como os de Roberto Requião, compõem o nepotismo do mérito (!); o escândalo propicia avanço no processo civilizatório.

Muito tarde, quase demais, Olympio se deu conta que estava entre a cruz e a caldeirinha: se pusesse o MP na comissão AL/TC diriam que estava defendendo os parentes, como se esses fossem também fantasmas daquela ópera; se ficasse fora teria que explicar o inexplicável – e teve que optar por este caminho. Não precisa ser vidente para perceber que a proposta de Nelson Justus induzia Olympio a exatamente isso.

Dos personagens envolvidos interessa o que menos aparece – e tão envolvido quanto todos: Hermas Brandão, o presidente do Tribunal de Contas, que a toda pressa incluiu a casa na investigação. Ora, Hermas foi presidente da AL antes de Nelson Justus. Ele recebeu os fantasmas com Abib Miguel e Rachide Massari e os transferiu para Nelson Justus e Alexandre Curi – que ainda borrava as fraldas quando os fantasmas nasceram na AL.

Hermas Brandão representa mais perigo para o processo civilizatório dos fantasmas que Nelson Justus, Alexandre Curi, Abib Miguel e Rachide Massari juntos. Simplesmente porque Hermas preside o tribunal que abonou as contas dos três mosqueteiros e de D’Artagnan/Rachide Massari, o que não era mosqueteiro, mas mandava igual. Hermas preside o tribunal que, a julgar pelo precedente, acabará por materializar os fantasmas, transformando o capilé de Rachide Massari num ectoplasma constitucional.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.