18:50Roberto Requião, um triste fim para quem poderia ter sido

Requião atirou a esmo e acertou a própria imagem

Roberto Requião agora é um cidadão comum. Não é mais o governador do Paraná, cargo que exerceu por três mandatos e  é um marco na história política do Estado. Roberto Requião é o último grande líder dessa terra. Pode ser que surja alguém lá na frente com o mesmo potencial, mas será difícil. Por isso mesmo o que se lamenta é que ele não tenha aproveitado o raro potencial que poderia levá-lo até a presidência da República. Desde que este blog foi ao ar pela primeira vez há três anos, no Jornal do Estado, o ex-governador foi o seu principal alvo de críticas, ironias e gozações. Não há contradição aqui. Requião ganhou o voto do titular deste espaço na primeira eleição ao governo do Estado – e o fato de a invenção escrota do personagem Ferreirinha ter explodido depois, apenas foi o início da, vamos dizer, do desmonte de uma imagem. Requião tem uma inteligência mais do que privilegiada. Aí é que mora o busilis. Tem isso e vive em mania, o lado bom de um distúrbio que classifica o paciente psiquiátrico como maníaco-depressivo. Resumindo: ao contrário da maioria das pessoas com esta doença, que se afunda no pântano da depressão (e o beque aqui viveu lá muitos anos), ele passa a maior parte do tempo do outro lado, no da euforia, onde se é Deus, se sabe tudo, se tem energia quadruplicada e se ignora o resto da humanidade. Um maníaco não erra. Nunca. Nem quando é flagrado em erro crasso. E quem vive assim ignora tratamento, terapeutas (quem eles pensam que são?), medicamentos e quem tiver a coragem de lhe avisar do “problema” – porque é muito bom. Roberto Requião assumiu o segundo governo assim. Encafifou no discurso juvenil de ser de esquerda e governar para os pobres, coisa que encalacrou na mufa nos tempos em que era líder estudantil. E tocou o barco. Porque governar um Estado não é difícil. Com um time de secretários, coloque um boneco inflável na cadeira de comando e depois pergunte se o trem parou de andar. Como seu guru Hugo Chávez, Requião sobreviveu se alimentando do próprio ego que endeusa e do contraditório. Ele chuta para ser chutado. Se ninguém o chutasse, ele não sobreviveria. Entraria nas trevas, como deve acontecer algumas vezes – e ele se esconde, para ninguém vê-lo sem força. Aqui neste espaço alimentamos a parte que ele gosta, mesmo porque motivos ele deu. O pior de tudo sempre foi o fato de defender uma moralidade e honestidade que não resistem ao fato, por exemplo, de ter colocado no Porto de Paranaguá um irmão cleptomaníaco. Colocado e protegido, porque ele o escolheu e ficou falando até o fim dos dias de seu governo que o aquele ponto estratégico da infra-estrutura é um dos melhores do mundo. Dudu Doidão, como ficou conhecido em Paranaguá por motivos óbvios, tinha a experiência de dirigir por seis meses um restaurante de filés mignons, que faliu. Terminou o governo em Brasília – e sua passagem como superintendente na beira do cais começa com o fato de ter tentado expulsar técnicos da Antaq, como se o local fosse propriedade particular, e termina com a questão nebulosa da aquisição da draga, que Dudu tentou concretizar, desde sempre, e da incrível falta de dragagem. Nos sete anos dos dois últimos governos, o processo patológico de Roberto Requião foi acelerado. A reação que teve ao conseguir a reeleição em 2006 é prova disso. No seu mundo particularíssimo, achou que venceria o senador Osmar Dias de lavada. Os dez mil votos que conseguiu de diferença, depois de sofrer durante toda a apuração, e também pelo fato de, seguro, ter anunciado, antes da abertura da primeira urna, uma entrevista coletiva para o dia seguinte, com a certeza de que seria eleito, mostrou sua imensa fragilidade. E, nestes casos, a reação é o ataque ensandecido, como fez e assustou até quem o acompanha e está acostumado aos distúrbios, distribuindo palavras como perdigotos para a imprensa que ele sempre acusou de o perseguir. Requião não é de esquerda e muito menos governou para os pobres, como repetiu inúmeras vezes, até ontem, no último discurso, pronunciado no Guairá, um palco um pouco mais nobre do que ele inventou com a patética Escola de Governo. Ele governa para ele, como se tivesse o dom da sabedoria máxima. No Senado, quando lá esteve, era conhecido apenas como um doido varrido. Foi um número em meio aos verdadeiros poderosos. Na província, reinou, como o líder que comanda uma legião de abduzidos que o enxergam como o homem corajoso que pode fazer o que os outros, mais educados e medrosos, não podem. O líder que peita tudo, que xinga, que não tem medo de ninguém e muito menos da Justiça. O passivo que vai deixar para o futuro governador mostra que a fanfarronice tem seu preço – mas esse quem vai pagar somos todos nós. O ex-governador tem medo sim. No fundo, tem medo dele próprio e, hoje, agora, deve estar pensando no drama que será se não for eleito senador em outubro. É uma possibilidade. Porque ele construiu esse destino. Achando que fazia o máximo. Não houve governo nesses sete anos. Essa é a verdade. O que vai ficar dele são apenas uivos e rosnares que se perderão no tempo. E uma imagem triste de alguém que poderia ter sido.

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