16:14A primeira entrevista

Márcia Lopes

Do jeito que veio:

A assistente social de Londrina, Márcia Helena Carvalho Lopes, especialista em políticas sociais voltadas para a criança e o adolescente e em administração pública, tomou posse, ontem, como a nova ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em substituição ao petista Patrus Ananias, que se desincompatibilizou do cargo para disputar as eleições deste ano no seu estado de origem, Minas Gerais.

Márcia Lopes é, há 24 anos, professora do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e sempre foi uma das forças paranaenses no governo do Presidente Lula, no qual exerceu desde 2005 a função de secretária executiva do MDS. É irmã do chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e assim como ele tem profundas raízes fincadas nos movimentos sociais, populares, e nas pastorais e comunidades eclesiais de base da igreja católica. Sua larga experiência em políticas sociais, protetivas e na luta em favor da segurança alimentar e nutricional vem desse referencial popular, da representação da sua categoria profissional, do exercício de mandato de vereadora em Londrina e da gestão municipal. Confira entrevista concedida pela ministra Márcia Lopes, minutos antes de tomar posse do cargo: 

1. A ministra tem toda uma trajetória de atuação em políticas sociais. Seja pela formação acadêmica, pelas administrações públicas, a partir da relação com os conselhos gestores e movimentos sociais. O que considera fundamental para a gestão dessas políticas? 

Márcia Lopes – É fundamental o conhecimento da realidade, da complexidade e da grande diversidade desse país. Também a noção da dinâmica de cada região, de cada município e é necessário considerar a diferença de porte desses municípios entre si para a aplicação das políticas sociais: desde uma enorme cidade como São Paulo até uma localidade onde vivem 1.500 pessoas. É preciso ter o domínio da realidade, conhecimento da formação e dos conteúdos das políticas sociais no país, bem como da legislação pertinente. Para fazer funcionar uma política ou mesmo um programa é essencial investir na capacitação dos recursos humanos, do ponto de vista técnico, teórico, prático e operacional. E outra questão fundamental é a atuação em rede com os movimentos sociais e os conselhos gestores de políticas públicas. Essa articulação com a sociedade civil tem de ser permanente e apoiada em uma relação de respeito e de garantia de participação e controle sociais. O resultado é uma consequência desse arranjo de forças. 

2.  Na sua opinião, qual a principal mudança ocorrida no país a partir do Governo Lula e o que falta fazer? 

Márcia Lopes – São inúmeras as mudanças. A primeira delas é a de postura política, de visão e de compromisso com as alterações nos rumos do país. O Brasil tinha um grande passivo de não inclusão, de não acesso, de estado omisso e o governo do Presidente Lula veio promover o resgate da estima da população, que passou a compreender melhor seus direitos e a valorizar o fato de ter mais acesso a serviços públicos. Com Lula, as pessoas assimilaram que é possível governar para todos. Os indicadores sociais estão aí para mostrar a importância dessas mudanças, o combate às desigualdades regionais e a efetivação de direitos. O desafio é dar continuidade a esse pacto federativo, esse espírito republicano de respeito às diferenças e à autonomia dos municípios… À valorização do trabalho articulado com os municípios e ao trabalho em rede social. 

3.  A ministra já integrava o quadro do ministério como secretária executiva. É de se esperar que a escolha do seu nome traga o compromisso de dar continuidade às ações desenvolvidas pela equipe sob o comando do ministro Patrus. Não é mesmo? Mas, além disso, quais os desafios impostos à Márcia Lopes nesses nove meses de governo que tem pela frente? 

Márcia Lopes – Eu perguntava isso justamente ao próprio ministro Patrus, com quem sempre tive o imenso orgulho de trabalhar. Uma pessoa que admiro pela integridade, caráter e pelo olhar muito humano com que se dedica à gestão das políticas sociais no governo. Então, a minha volta é pautada justamente na necessidade de dar continuidade ao trabalho que começou com ele. Participei do processo de planejamento e consolidação das políticas que resultam na implantação do Sistema Único de Assistência Social e do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Temos de fortalecer essas ações e programas, como o Bolsa Família, que hoje cumpre um papel social importante e integra toda uma rede organizada de proteção das pessoas. Esse conjunto de iniciativas precisa estar permanentemente entrelaçado à dinâmica dos estados e municípios, para que os resultados dessa integração cheguem até a população. Porque, no final das contas, todo o nosso trabalho só faz sentido se for para melhorar a vida das pessoas. 

4.     No cenário de eleição da ministra Dilma à Presidência da República e a de Patrus Ananias em Minas Gerais, a Sra. continuaria no Ministério? Já existe conversa nesse sentido

Márcia Lopes – Não, não existe. O que importa é cumprirmos o nosso trabalho e executarmos bem nossa tarefa até dezembro, que é quando termina o governo do Presidente Lula. O Brasil, hoje, está no centro do debate mundial de sistemas de políticas de proteção social. É uma enorme responsabilidade, mas também um reconhecimento por todas as mudanças na vida do povo brasileiro. Esse é o nosso foco! 

5.     Na reunião com o Presidente Lula ontem à noite, ele fez algum pedido especial à nova ministra ou passou alguma orientação? 

Márcia Lopes – Ele só me disse que estava muito feliz com o meu aceite, porque sabia que eu havia voltado para Londrina e era pré-candidata a deputada estadual. O Presidente Lula reforçou que é fundamental dar continuidade nessas políticas, nesses avanços e manter os indicadores sociais que atestam a melhora significativa na qualidade de vida da nossa população. Ele só disse que vamos trabalhar muito mais. 

6.     Por fim, a ministra é um dos melhores e mais bem preparados quadros do partido dos trabalhadores no Paraná. O fato de ser mulher também criou expectativas em torno da sua pré-candidatura a uma vaga de deputada estadual. Deixar esses planos de lado prejudica? Isso vai fazer a ministra exigir que tipo de compromisso dos seus colegas que serão candidatos pelo PT aqui no estado? 

Márcia Lopes – Eu tenho a convicção de que quando a gente vem para a política, para a vida pública, a gente se coloca à disposição de projetos maiores e em favor do interesse coletivo. Talvez como parlamentar eu tivesse, sim, a oportunidade de articular forças e realizar ações que hoje eu enxergo como necessárias para efetivar muitas das nossas conquistas relativas ao direito do cidadão, à proteção e ao cuidado para com as pessoas. Conheço bem a realidade do Paraná e isso conta muito. Eu digo sempre para os companheiros e as companheiras com mandatos parlamentares que estamos em lugares distintos ou executando trabalhos diferentes, mas que nossa luta é a mesma e que conto com eles no dia-a-dia das suas funções específicas para implementarmos os programas e as ações que são necessárias. Estamos no mesmo rumo. O nosso compromisso é pelo bem-estar do povo brasileiro e deve ser demonstrado cotidianamente com ética, com seriedade e com a defesa firme da justiça social.

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