8:08"Quase sábado – ou Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes”

de Jorge Eduardo, publicado no seu Blague do Blog (http://www.blaguedoblog.blogspot.com):

Porque agora é quase sábado
Há um quase silêncio na minha rua
Por onde passa um babaca voando de caminhonete
Ouvindo sertanejo feito um doido
Onde um bêbado doido lavra um vagido
Para a lua
Quebra a garrafa no meu portão
Sem rima
Sem canção
E se vai e se esvai afora pela rua
Que é um rio
(Ainda sem chuva)
É um quase silêncio
Aqui, onde a mulher de cima
Caminha sobre os saltos
Depois se desnuda e canta
Ângela Maria
Para o marido cachorro ou
Sem marido
Para o cachorro que uiva igual ao bêbado da rua
Será o marido?
São iguais
E o garoto de baixo sobe o som do tchum-tchum
Bate-estaca sem coração
A avó doente já sem coração
Morre todo sábado
Lá embaixo
No portão o vizinho gay
Se despede aos prantos
Do amante que já era
Chora tanto que faz chover de novo
Tempestade nos olhos vermelhos, educados e nada gentis
Bicha velha
Sem poesia
E do outro lado da rua há uma festa sem igual
Na agência de propaganda que ganhou prêmio nacional
Só faltam foguetes
Faltavam
Na esquina
Torcedores vileiros com porretes
Traçam luta medieval
Um foge
Outro dança muay thai
Dois estão caídos
Vem a PM
Tarde como sempre
Luzes inquietas
Sirene em si-be-mol
Introdução de Weather Report
Ou com surdina, feito Miles?
Tema de jazz?
Quieto no meu canto
Bem lá no fundo
De mim e do meu canto espacial
Em bem silêncio
Ouço jazz
E tomo conhaque e fumo o último – juro que – cigarro
E lá vem minha dona sapateando
Flutuando em suas silenciosas chinelas
De pano, com surdina
Arromba minha porta
E meu silêncio
(Intervalo de Miles)
“Desligue tudo, tome um banho
E vem dormir, criatura”

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