por Zé da Silva
Câncer
Irmãos? Não havia distância física. Entre eles, contudo, o mistério que nunca decifraram. Um era alegre. O outro, fechado como um cofre de banco cuja chave foi perdida. Enferrujou com o tempo. O outro correu atrás e para escancarar mais o sorriso. De vez em quando se encontravam, mas era como se um entrasse num ônibus para sentar ao lado de um desconhecido. O sobrenome, apenas um sobrenome. Sangue do meu sangue uma frase. Casaram, tiveram filhos, até amigos em comum, que não entendiam e não perguntavam o motivo. Porque todos viveram algo parecido. O irmão distante desde o dia do nascimento. O ciúme, a verdade absoluta de sentir a mãe com mais chamego pelo outro, o sucesso na escola e na carreira de um, as conquistas amorosas, essas coisas de ferir o peito. Mas a maioria sempre encontrava o mano no meio da história. Às vezes no velório dos pais, e descobriam o amor. Mas aqueles não. O fogo queimando por dentro, da paixão, da vontade do abraço para apagar tudo, e a caminhada sempre para mais longe um do outro, as costas sem olhos se distanciando para cada lado da estrada da vida.