18:46Para ver o que vê Vik Muniz

mon27fevereiro2010-025

Liz Taylor, por Vik Muniz – Foto de Sonia Maschke

Vik Muniz levanta acampamento amanhã do Museu Oscar Niemeyer. É a maior mostra deste artista que não é considerado artista por alguns. Vik Muniz brilha mais que os diamantes que um admirador novaiorquino lhe emprestou para criar mais obras. A de cima é o retrato de Elizabeth Taylor. Ao lado dela, ele cravejou Monica Vitti. Na mesma parede, pedras menos preciosas, mas em retratos fortíssimos, mostram Boris Karloff como Freinkestein e Christopher Lee como Drácula. Vik Muniz saiu do nada do interior do Brasil. Agora é muito no mercado de arte mundial. Seus desenhos feitos a partir de fotos de uma revista Life , aquela edição especial com as melhores, são retratos orientados pelo deus da arte, pois a edição ele havia perdido. Fez de cabeça. Quem tem mais de 50 anos jamais esquecerá o coronel sul vietnamita estourando a cabeça de um vietcong com um tiro à queima roupa; ou a menina correndo apavorada, pele queimada, depois de tomar um banho de napalm despejado pelos bombardeiros norte-americanos; ou ainda a foto de toda uma plateia com óculos para ver filme em terceira dimensão, prvoando que o embascamento de hoje tem DNA. Monalisa em duplicidade feita com geleia e creme de amendoim, colagens em todo tipo de papel, confete, quebra-cabeças, peças de ferro-velho – tudo recriando, reciclando, como gostam de dizer hoje em dia. Há uma série de desenhos aparentemente singelos, do início da carreira, que mostram onde sempre andou o olhar da alma deste artista. Ele recorta da paisagem cotidiano, o simples, o que ninguém vê – e faz todo mundo ver. Um rolo de papel higiênico, em recipiente daqueles de madeira, onde o produto a ser utilizado  é amparado por fios de arame, é uma mostra do que ele quer destacar – e não dizer, porque quem diz é quem vê. Vik Muniz tem o clique, faz a obra, clica, desfaz a obra e ela eterniza na retina. Ele é um obcecado. O pequeno documentário onde é mostrado como fez as interferências numa grande região onde é extraído minério de ferro em Minas Gerais, prova isso. Ali, ns montanhas peladas, cujo contorno foi redesenhado, ele encontrou o suporte para o que queria. Primeiro vêem-se as fotografias prontas . Parece que aqueles interruptores de energia, desses de casa, a régua, o clips, foram colocados ali em interferência como interferência no laboratório, do computador, ou coisa parecida. O filme mostra que ele teve a ideia, contratou engenheiros e máquinas e fez um estudo computadorizado da área para realizar os desenhos. Como novas cicatrizes, talvez mais suaves, para amenizar o estrago, tudo milimetricamente estudado. Estacas são colocadas, máquinas entram em ação, os técnicos e ele controlando tudo com mapas da região. Quando os desenhos sulcados nas montanhas ficam pronto, ele sobe e voa num helicóptero para registrar. Vik Muniz é trabalhador braçal. É energia, paciência e a prova de que o talento que Deus lhe deu ele agradeceu e foi à luta, impaciente, para desenvolver e transformar nisso que alguns não consideram arte – mas é arte. Essa grande mostra vai embora amanhã. Pode ser vista das 10h às 18. No local mais do que próprio. Criado por alguém cujas obras também desdenham. Por não serem práticas, justificam. Mas… aqueles vãos da parte antiga do Museu Oscar Niemeyer e o “olho” precisariam também ser práticos além de fazerem deslumbrar?

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