18:53Carência de "tatu literário"

Do blog do jornalista Geneton Moraes Neto, no G1, (http://colunas.g1.com.br/geneton/) algumas farpas lançadas pelo escritor Lêdo Ivo, 86 anos, que vão ao ar amanhã, sábado, às 19h05 no “Dossiê Globonews”  (reprises no domingo às 12h30 e segunda-feira, às 15h30):

– É claro que a exuberância da paisagem atrapalha. Veja o problema amazônico : a paisagem no Brasil sai pelo ladrão. Isso se reflete na literatura brasileira. É um literatura muito paisagística, muito  cosmética. É raro, no Brasil, um escritor do tipo de Machado de Assis, um “tatu” literário, que sonda as almas. Uma das funções da literatura é o estudo da condição humana. Você não pode fazer uma literatura cosmética, só de fora. Você tem de dazer uma literatura “de dentro”. Isso falta ao Brasil! É um país que tem uma literatura muito desespiritualizada, uma literatura muito de superfície.

–  O calor excessivo não ajuda a reflexão. Os escritores europeus produzem, em geral, nos meses de frio. Baudelaire anseia pelo frio para escrever seus poemas! Aqui no Brasil, o calor atrapalha muito”.

– Não consigo passar da página três de nenhum livro de teoria literária, porque não sei em que língua são escritos.

– O sistema de de difusão cultural no Brasil mudou. Já não temos críticos literários. Quando surgi, havia críticos como Antônio Cândido, Sérgio Buarque de Holanda, Álvaro Lins e Wilson Martins – que me reconheceram. Pude sair do anonimato e me tornar uma figura pública. Hoje, o ”juiz literário” do poeta é o repórter do segundo caderno.

– Antes,vinha gente de Minas Gerais para ver Olavo Bilac passar na avenida. Hoje, ninguém vem nem de Nova Iguaçu para ver um de nós passar pela avenida Presidente Wilson!”

– Noto que os jovens poetas não têm o senso da tradição literária. Não leram Dante, não leram Skakespeare. Não é culpa deles apenas. É culpa do sistema educacional ! As escolas começaram a privilegiar o presente, como se o Brasil tivesse começado na Semana de Arte Moderna !

– Desde que, na ditadura militar, se substituiu o estudo da gramática pela chamada “comunicação e expressão”, as novas gerações começaram a falar muito mal. É uma linguagem padronizada – e, às vezes, de grunhidos…

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