18:12Para Osvaldinho da Cuíca

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Osvaldinho da Cuíca

Captei o senhor no zap nosso de todo dia. Uma apresentação de dezembro do ano passado no Clube do Choro, que a TV Senado exibe. Foi há pouco, num domingo de sol e vento prenunciando novo temporal. A avenida que abriram no joelho parou de doer. Lembrei da avenida Sapopemba, que o senhor deve conhecer muito bem, pois paulistano da gema é. E o ronco da cuíca foi emocionante, como a apresentadora do programa bem disse, ela que mostrava os melhores momentos dos artistas do ano passado. Antecedeu-o Adelaide Chiozzo, que imaginava em outras paragens porque aqui neste país é assim mesmo. Mas quando a mocinha falou no seu nome, lembrei que só o conhecia de fama. Me veio a lembrança o dia em que, há mais de três décadas, tive a honra de entrevistar Adoniran Barbosa na frente da extinta TV Tupi. Ele citou seu nome. Este nome entrou e saiu várias vezes do radar da mente e da alma. Confesso que nunca tinha me preocupado em ver a que figura pertencia. Portanto, a primeira grande surpresa foi essa. Branco. O branco de alma mais negra possível, como se referiam ao poetinha Vinícius de Moraes. Ah, Osvaldinho da Cuíca, senhor de 70 anos e energia de menino, sorriso de vila… Você que nasceu em dia de Carnaval no Bom Retiro, você me deixou levitando de emoção, mesmo porque atacou de “O Ronco da Cuíca”, num solo introdutório que vale por todo o lixo que ouvimos nas fms da vida, e depois cantou, com sua voz de não cantor, sua voz que, digo sem medo da pieguice, é de povo, o senhor cantou e gritou os versos de outro grande brasileiro, Aldir Blanc, roncou, roncou, roncou de raiva a cuíca roncou de fome, alguém mandou, mandou parar a cuíca é coisa dos homens… e seu corpo franzino, o rosto chupado, os dentes grandes, os óculos, o chapéu enterrado na cabeça, ah, Osvaldinho, o som ecoou aqui dentro e me levou para as vilas da Sampa que eu conheço por ter nascido lá, na vila, e de ter conhecido o samba da terra com o Adoniran citado, com os Demônios da Garoa do qual o senhor fez parte, com Germano Mathias com que tocaste. Aí fui atrás rapidinho nessa máquina de doido e na busca e descobri um pedacinho da sua enorme vida dedicada à arte (ler abaixo) e fiquei feliz por ter te encontrado agora, pois nunca é tarde para os encantamentos. Agora, quem sabe, um dia vamos nos encontrar. Acho que nem vai ser preciso tocar, pois nos poucos momentos em que te vi e ouvi através da tela, soube da sua grandeza como músico e como ser humano. Obrigado.

Texto publicado no site Agenda do Samba e Choro (www.samba-choro.com.br):

Sambista, ritmista, passista, cantor e compositor, Osvaldinho da Cuíca é o autêntico representante de uma arte popular que transita entre a tradição e a contemporaneidade. Ao longo de sua carreira, atuou em programas de rádio, televisão, gravações, shows e festivais, tocando com grandes artistas brasileiros, como: Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Adoniran Barbosa, Geraldo Filme, Germano Mathias, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho, Cartola, Zé Keti, Nelson Sargento, Elton Medeiros, Clementina de Jesus, Beth Carvalho, D. Ivone Lara, Toquinho e Vinícius de Moraes, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, João Nogueira, Zeca Pagodinho, Lecy Brandão e Eduardo Gudin, entre outros.

Seu reconhecido trabalho como instrumentista e o empenho no resgate, preservação e difusão do samba, repercutiram na conquista do importante título de “Embaixador Nato do Samba Paulista”, concedido pela União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP).

Paulistano de Bom Retiro, nasceu em pleno Carnaval de 1940, ao som da bateria do Cordão Campos Elíseos.

Aos quinze anos já se fazia notar nos batuques e cordões carnavalescos da zona norte de São Paulo, participando do surgimento de várias escolas de samba. Desde então, tem estado presente nos principais momentos históricos do samba e da música popular brasileira.

Ingressou no Teatro Popular de Solano Trindade em 1959, dedicando-se à cultura afro-brasileira. No mesmo ano, junto ao grupo de Monsueto Menezes, participou da trilha sonora do filme “Orfeu Negro”, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes e do Oscar de melhor filme estrangeiro.

Apresentou-se em diversos estados brasileiros como integrante do grupo folclórico de Luiz Carlos de Barbosa Lessa, participando do espetáculo “A Rainha de Moçambique”, encenado no Teatro Municipal de São Paulo em 1961.

Em 1962, formou um trio de passistas com Chevalier e Paula do Salgueiro, apresentando-se com sucesso em clubes e programas de televisão. Na mesma época, participou de um movimento musical iniciado na famosa boate “O Jogral” de Luiz Carlos Paraná, abrindo espaço para o samba nas casas noturnas de Moema e da Rua Santo Antônio, no Bexiga.

Integrou o conjunto “Demônios da Garoa” entre os anos de 1967 e 1999, recebendo no 8.º Prêmio Sharp de Música o troféu de melhor grupo de samba.

Em 1972, levou o ritmo das escolas de samba aos estabelecimentos de ensino, gerando grande polêmica na imprensa nacional pela inovação apresentada nos desfiles cívicos daquele ano.

Foi eleito o primeiro “Cidadão Samba de São Paulo”, em 1974, no concurso promovido pela secretaria de turismo da cidade. No mesmo ano, gravou seu disco de estréia como intérprete, produzido por Marcus Pereira.

Fundou a Ala de Compositores da Escola de
Samba Vai-Vai (1975), participando também
da fundação de outras escolas, entre elas a
Gaviões da Fiel (1974) e a Acadêmicos do
Tucuruvi (1976).

Produziu os primeiros LP’s de Samba-Enredo das cidades São Paulo, Santos, Guaratinguetá e São Luís do Maranhão.

Em 1978, atuou no curta-metragem produzido por Thomas Farkas, sobre a história da cuíca. Além da representação do samba e dos instrumentos musicais afro-brasileiros, a participação deste filme em festivais internacionais contribuiu para o reconhecimento do seu trabalho como instrumentista, abrindo espaço para viagens ao exterior.

Apresentou-se no Japão com o maestro Nelson Ayres (1985), realizou turnê com a Cia. de Franco Fontana, apresentando-se na Itália, França e Principado de Mônaco(1987), tocou nos EUA ao lado de Amilson Godoy e Hermeto Paschoal (1989) e, recentemente, participou como convidado especial do Amsterdã Samba Meeting, na Holanda(1999).

Em 1984, dirigiu e apresentou o musical “O Canto dos Escravos” com participação de Clementina de Jesus e Geraldo Filme. Acompanhado pelo sambista Geraldo Filme, seu parceiro por quarenta anos, levou ao Projeto Funarte, em 1985, uma primeira versão da História do Samba Paulista, projeto desenvolvido durante toda a sua vida.

Em 1989, participou de duas experiências sinfônicas: a montagem de “Matogrosso” de Gerald Thomas, no Teatro Municipal de São Paulo e um concerto com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, no Memorial da América Latina.

No início da década de 90, participou de uma
série de projetos de valorização do samba e
da música popular brasileira.

Em 1997, intensifica suas pesquisas sobre a
memória do samba paulista, participando do
roteiro e filmagens de um documentário sobre o sambista Geraldo Filme.

Através de uma parceria com o CPC-UMES realizou, em 1999, a produção do CD “A História do Samba Paulista – I”, escrevendo e dirigindo o espetáculo teatro-musical de mesmo nome, apresentado no Teatro Denoy de Oliveira, em São Paulo.

Discografia

Gravações Solo

1974
LP “Osvaldinho da Cuíca e Grupo Vai-Vai”
selo Marcus Pereira

1983
“Velhos Amigos”
compacto simples/selo Continental

1984
LP “Preto no Branco”
selo Som da Gente

1999
CD “A História do Samba Paulista I”
selo CPC UMES

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